Anteriormente, o pan-africanismo, movimento político centrado na africanização de África e na noção de raça, realizou cinco congressos, designadamente: em Paris (1911), Bruxelas (1921), Lisboa (1922), Nova Iorque (1927) e Manchester (1945).
Algumas personalidades internacionais das diásporas africanas, como Marcus Garvey, da Jamaica, ou W.E.B. Du Bois, americano, tiveram papéis de relevo no movimento pan-africanista.
Mário Pinto de Andrade, co-fundador do MPLA e seu primeiro presidente, no livro que publicou a propósito da geração que precedeu a sua, designou-a como a geração dos "protonacionalistas".
É pertinente o seu estudo, tal como o é um livro recente que analisa as origens do movimento negro em Portugal, entre 1911 e 1933, com o título "Tribuna Negra", da autoria de Cristina Roldão, José Augusto Pereira e Pedro Varela.
No período em causa, que vai da I República à Constituição de 1933, foram inúmeras as publicações que deram expressão a este movimento negro como "O Negro", "A voz de África", "Tribuna de África", "África" e inúmeras outras, para além da existência de inúmeras Associações de defesa dos negros.
Personalidades como João de Castro, advogado são-tomense, fundador da "JUNTA DE DEFESA DOS DIREITOS DE ÁFRICA" e que foi deputado pelo círculo de São Tomé e Príncipe à Assembleia da República, ou José de Magalhães, também deputado à mesma Assembleia, médico angolano, presidente honorário do Movimento Nacionalista Africano e da Liga Africana e que teve um papel muito importante como director do Instituto de Medicina Tropical, ainda hoje é nele muito recordado.
Neste período, encontramos também mulheres africanas devotas à causa do movimento negro em Portugal, como a angolana Georgina Ribas ou a são-tomense Maria Nazaré Ascenso, essa actualmente dirigente do Partido Nacional Africano.
Evocar esta realidade dos "protonacionalistas" e dos nacionalistas africanos que se lhes seguiram é tanto mais relevante quanto soubermos integrar as lutas que levaram a efeito no período histórico em que viveram.
Como diz o épico português Luís de Camões, "todo o mundo é feito de mudança".
E porque o é, só assim alcançamos a dimensão dos debates que tiveram com posições diferentes, apesar dos objectivos e das causas comuns que defendiam, com respeito pelas diferenças.
Estes debates envolviam o conceito de raça que, para W.E. Du Bois, não estava associado a uma questão biológica, mas sociológica e histórica.
Marcus Garvey, também pan-africanista, chegou a afirmar não ser possível a integração negra nos EUA.
O mundo mudou muito e, porque tudo "é feito de mudança" escassos 70 anos após a morte de Marcus Garvey, os EUA elegeram um Presidente da República negro, no caso Obama, e hoje o Ministro da Defesa também o é, como inúmeros outros altos funcionários.
África, que vive neste momento um período muito complexo e difícil, apesar das potencialidades, incluindo de capital humano, parece dever reflectir na homenagem devida - e justamente - aos "protonacionalistas" e nacionalistas.
Porque os novos desafios impõem respostas abrangentes, integradoras e descomplexadas política e socialmente, num mundo que é cada vez mais um só, a releitura atenta da História é isso que nos ensina.
*(Secretário-geral da UCCLA)