Esta introdução serve apenas para a apropriação do título, que na verdade não pretende de todo olhar para o zodíaco chinês, mas, sim, tratar de um assunto chocante que é neste momento um elefante na sala de estar da governação e Angola continua a tratá-lo como um assunto periférico, o que, para além de ser preocupante, demonstra claramente uma manifesta falta de empatia pelo povo, falta de patriotismo e sobretudo um egoísmo institucional que não somos obrigados a continuar a aceitar. Estou a falar da pobreza extrema, agravada neste segundo mandato, mas que desde 2018 começou a multiplicar os pobres, aniquilou a classe média e foi responsável por uma saída épica de angolanos à procura de uma vida que lhes confira dignidade. Mas ao mesmo tempo protegeu as riquezas de origem duvidosa dos militantes "guardiões do templo das matérias sensíveis" que podem desmontar o sistema.

A derrota olímpica do Programa de Combate à Pobreza aconteceu porque nunca combateu a pobreza, apenas combateu os pobres com o abandono, o descaso, a discussão periférica do assunto, a exemplo dos milhões para a seca do Sul que não resolveram nada. A importação de cereais que concorre com os agricultores nacionais. A Reserva Alimentar moribunda e opaca. A merenda na escola que se tornou obscura, deprimente, sem estratégia de universalidade, nem de qualidade. O futuro de Angola vai à escola com Fome. A Fome aleija, maltrata e retira a dignidade dos povos. A Fome é o maior drama do povo angolano. Relativa é só a indiferença institucional.

Das 23.832 aldeias que existem em Angola, apenas 3.230 têm um serviço de saúde (14% do total); 8.564, escolas primárias (36%) e 124, bancos (0,5% do total). O recenseamento Agropecuário e Pescas (2019/2020) das aldeias e do meio rural, que consta do Relatório produzido pelo Instituto Nacional de Estatística e trazido a público pelo jornal Expansão, mostrou que nada está a acontecer nos municípios. Se olharmos para o sector agrícola, a depressão aumenta. Apenas em 3% das aldeias existem unidades de processamento e de conservação dos produtos agropecuários. Apenas 1% das aldeias tem serviços adequados de fertilização. O apoio e fomento da actividade rural que permita garantir a sustentabilidade alimentar é uma piada que não dá vontade de rir. O propalado plano eleitoralista de que a "vida acontece nos municípios" é um jajão mal-intencionado e um insulto ao eleitor.

Com uma dívida externa suspeita de apropriação privada e atrelada aos esquemas da primitiva acumulação de capital que merece uma avaliação urgente, com os laureados a viver dentro e fora do País com vidas que insultam qualquer mortal, sem nunca deixarem de priorizar o luxo, o conforto e o bem-estar dos eleitos representantes do povo, estamos a ser vítimas de uma crise provocada pelo banquete da desonestidade que nem sequer é capaz de tomar conta dos mais fracos. Em Abril deste ano, 500 mil crianças não tinham nenhuma vacina. Não criem mais planos. Arreigassem as mangas e chamem peritos. Pelo menos podiam fingir que se importam.

O Estado de Emergência é neste momento uma urgência. Assinar um Decreto que vai importar umas toneladas de cereais não resolve o problema. É imperativo que se trate deste assunto com o concurso da ciência e do respeito pela vida humana, deixando de lado o negócio. Estamos nos primeiros lugares do fim da lista em matéria de prosperidade, felicidade, eficácia e Estado de Direito. A taxa de pobreza multidimensional publicada pelo INE em 2020 era de 87% na zona rural e 35% na zona urbana. Infelizmente, à vista desarmada, qualquer cidadão, mesmo sem nenhuma escolaridade, consegue constatar que em 2023 a situação descambou para níveis insustentáveis.

Não vos vemos com ar preocupado. Ninguém saiu para explicar, de forma honesta, qual é o tamanho da agonia que está a destruir os angolanos e o nosso País. Não vos vimos apertar nenhum buraco dos vossos cintos de marca. O que vemos é um silêncio confrangedor, que não traduz nada de bom, no intervalo de sucintas declarações que nunca estão em sintonia. A presidência permanece omissa. Queremos dados para podermos fintar a derrota das nossas geleiras nacionais. O povo está a comprar óleo às colheres. Está a fazer sociedade na latinha pequena de massa de tomate.

Nós que não temos compromisso com o prejuízo de ninguém, que só queremos um País para Todos, somos acusados por exigir uma governação eficaz e transparente. Por não ouvirem ninguém e por causa da omissão dos melhores, 48 anos depois não há um projecto de Nação. Os alarmes sociais não mentem. Não somos nada um povo especial. Somos um povo farto, que suportou a dor em silêncio numa luta há 48 anos pela sobrevivência, em todos os sentidos, contra uma governação militante que nunca teve bondade, nem eficiência.

Os angolanos desamparados, desabrigados e que estão isentos de Direitos, sem nenhuma instituição que os valha, a quem só falta retirar a nacionalidade por "desfearem" as ruas de Luanda, estão a comer cão. Cão vadio e doente, alternando com rato de esgoto, autênticos venenos para a sua já paupérrima e frágil saúde. Os angolanos das aldeias estão a sobreviver com chá de capim, quando há água, numa morte anunciada. Nem no tempo em que fomos acorrentados e vendidos para trabalhar além-mar, num ambiente de absoluta desumanidade, nem depois, com a longeva colonização, os angolanos comeram cão. O "Ano do Cão" traduz, na nossa realidade, a indelicadeza com que se trata um povo e esta indelicadeza reiterada é sempre um bilhete para o fim.

Custa ouvir, mas é a verdade, no ano em que comemoramos 48 anos de Independência, em Angola morre-se de FOME. O cenário não é pessimista, é diabólico.