Enquanto líder do Movimento Popular de Libertação de Angola, numa das perguntas deixadas para o fim da entrevista, João Lourenço afirmou que o militante do seu partido que se apresenta como "super-militante, super-general", predestinado a ser Presidente da República, é algo que o MPLA "considera muito grave".

"Quando alguém se apresenta como predestinado, a mensagem que está a passar aos outros putativos candidatos é que "não vale a pena vocês concorrerem, estão a perder o vosso tempo, porque o destino já me predestinou. Já defini o meu futuro e o futuro da Angola. O presidente de Angola vou ser eu. Então, vocês estão a perder dinheiro, estão a perder tempo, nem sei se vale a pena fazer eleições. Esta é a mensagem que está a passar no fundo. O Estado nem sequer devia organizar eleições, está a perder tempo. Vai organizar eleições mais porquê, se o destino já definiu que o Ernesto é que vai ser o futuro presidente. Então, só temos de arranjar a cadeira, confortável, para o Ernesto sentar?", perguntou ao jornalista da TPA.

Depois, para deixar bem claro que não dá a sua "benção" a este ou a qualquer outro candidato que comece a corrida sem ele disparar o tiro de largada, João Lorenço atirou: "É óbvio que não há. É óbvio que não há! E todo aquele que tentar passar a ideia de que tem a minha bênção para poder começar a corrida agora, agora ou mais tarde, eu vou desmentir-lhe publicamente, como estou a fazer agora".

"Aqueles que andam a dizer que não há democracia interna no MPLA deviam entender que apresentar-se como predestinado é que é matar a democracia interna no MPLA", afirmou.

"Fala se muito de uma audiência que eu concedi há dias, na sede do MPLA, entre muitas que são concedidas a várias entidades, e em relação à maioria das quais não publicitamos", afirmou.

"Ficámos, por vezes, sem entender a razão de todo este barulho à volta de mais uma audiência, a pedido da pessoa em causa. Dias antes recebi o antigo secretário-geral do partido, Boavida Neto, mas ninguém publicou ou veio a público considerá-lo como algo de extraordinário", acrescentou.

João Lourenço referiu que fica "bastante perplexo" quando a comunicação social diz que o Presidente se reuniu com uma pessoa, quando de facto foi uma audiência".

Salientou que esta audiência foi testemunhada por três membros do Bureau Político do partido, facto também omitido pelas notícias que vieram a público.

Relativamente à proposta de alteração do pacote legislativo eleitoral, em discussão no Parlamento, sustentou que há imparcialidade e todos têm a possibilidade de contribuir para a aprovação das leis que foram propostas.

"Quando se colocar em execução, há possibilidade de, não só os partidos políticos concorrentes, mas a própria sociedade civil, poderem acompanhar a sua implementação", referiu.

"Essas duas propostas (do Executivo e da UNITA) deram entrada na Assembleia Nacional e é preciso que as duas sejam discutidas. Pode ser que se aprove apenas uma, pode ser que se aprove algo que seja uma espécie de fusão das duas para sair algo que possa satisfazer todas as partes", disse.

No que diz respeito ao combate à corrupção, João Lourenço sublinhou que ainda "não é tudo, há muito mais por recuperar", uma vez que tal "não se faz num dia".

O Chefe de Estado criticou o que chamou sabotagem da oposição: "Sabota algumas iniciativas do Governo que seriam para benefício do povo".

"A UNITA não pode criar tensão política e pensar que isso se resolve com audiências no palácio", lançou, recomendando à oposição menos "factos" e provocações causadoras de tensão política.

"Haver mais diálogo para desanuviar o ambiente de tensão, eu acho que é uma forma errada de se estar na política. Nós, todos os actores políticos, devemos é esforçar-nos no sentido de não contribuir para que exista tal tensão política, que não haja factos ou que, se os houver, que sejam o mínimo possível de factos que possam levar à existência da tal tensão política" afirmou João Lourenço.

O Chefe de Estado disse ainda que "não se deve provocar a tensão e depois, como remédio, vir a correr ao Palácio, conversar com o Presidente da República e está tudo resolvido. E, no dia seguinte, voltar a provocar a tensão política. Isto não é solução" frisou o Chefe de Estado.