A teoria do desenvolvimento económico que se começou a gizar a partir dos anos sessenta do século passado fundamentou a forma de rompimento da existência do círculo vicioso da pobreza.
Essa fundamentação assentava, na essência, que um país sem poupança e não tendo meios para investir, não podia gerar riqueza e daí o círculo vicioso em que caía.
Para romper este círculo, um país nestas condições poderia, por exemplo, socorrer-se da poupança externa, através de empréstimos, garantindo, por esta via, meios de investimento para criar riqueza.
Ao analisarmos a situação de Angola, desde logo verificamos que, após a independência, o País beneficiou de meios para investir e gerar riqueza, podendo assim criar desenvolvimento, desde logo através do forte recurso que o garantia, a produção de petróleo que ainda hoje é responsável por mais de 90% das exportações.
Claro que a guerra fratricida prolongada, que se manteve ininterrupta até 2002, justifica em parte o baixíssimo posicionamento de Angola no ranking do desenvolvimento humano, como um país pobre, que de facto é, mas está longe de justificar porque assim sucedeu.
Antes de mais, o País não pode nem deve resignar-se a ser um país pobre.
A reiterada aposta na dependência do petróleo persistiu após o termo da guerra, sem efectiva canalização dos rendimentos gerados pelo petróleo para investimentos reprodutivos, nalguns casos encaminhados para opções megalómanas, como se Angola fosse um país rico, gerando a ideia falsa que o crescimento económico, nalguns anos superiores a um dígito, fosse para ficar.
Essa fase coincidiu, após o termo da guerra, com o crescimento do valor do barril do petróleo, sem se cuidar que a economia tem ciclos e que a probabilidade da existência de um ciclo de crescimento pode seguir-se o seu contrário, como se seguiu, com a baixa do preço do valor do petróleo.
Após a guerra, não houve, além do mais, a preocupação de se constituir um fundo consistente de reserva como o Fundo Soberano não o foi, não se cuidando do tempo das "vacas magras" que viriam.
Este quadro, de par com as dificuldades da diversificação da economia, reiteradamente anunciadas, foram acrescidamente confrontadas com a ausência de investimentos em infra-estruturas adequadas para as respostas necessárias e que mais tarde acabariam por tropeçar em maiores constrangimentos resultantes da pandemia que acelerou a inflação e depois a crise cambial.
Independentemente dos juízos que se possam fazer, os impactos destas consequências, refletiram-se no ciclo iniciado pelo actual Presidente da República, que os herdou.
Há domínios, porém, em que o crescimento agrícola teve expressão significativa nos últimos quatro anos, registando-se também o relevante significado do "corredor do desenvolvimento do Lobito", que, porém, estão ainda muito longe de responderem ao desemprego da juventude que tem também de ser suportado em produção de bens e serviços competitivos.
Angola tem condições e goza de meios para romper com a pobreza, reganhando a consciência que o desenvolvimento não se opera partindo-se do pressuposto de que o País é rico.
Os indicadores iniciais desmentem-no.
A história, após o termo da guerra, ocorrida em 2002, há portante 22 anos, ensina-nos as causas da situação a que se chegou.
É útil termos presente esse ensinamento porque não há futuro sem memória e Angola e o seu povo merecem que revisitemos a História.
*(Secretário-geral da UCCLA)