Agora em Março, Angola terá de pagar uma tranche da dívida com a China. Segundo o jornal Negócios, o Banco Nacional de Angola está a levar a cabo uma política de retenção de divisas precisamente para cumprir os prazos e os valores da liquidação previamente definidos. A China está com a chamada "dor de corno" por causa da nova "paixão americana" de João Lourenço e não nos vai perdoar facilmente nem nos irá facilitar.
De acordo com dados do BNA, citados pelo Maka Angola e retomados pelo jornal Negócios, a dívida de Angola à China situa-se agora nos 18, 4 mil milhões de dólares, o que corresponde a 37 % da dívida total, sendo que, nos últimos quatro anos, entre 2019 e 2023, Angola terá pago apenas em capital quatro mil milhões de dólares ao "gigante" asiático. Existem prazos de pagamento da dívida que vão até 2028 e outros que vão até 2030.
"O serviço da dívida de Angola constitui uma arma negocial relevante para a China", disse-me o colega e amigo Celso Filipe, do jornal Negócios. Angola caiu na "armadilha" da dívida chinesa, sem aproveitar a sério e devidamente a China. Muito deste dinheiro foi usado de forma indevida e pouco transparente também, mas certo é que João Lourenço está a ir negociar e a pagar uma dívida que ele herdou quando assumiu o poder em 2017.
A China está a desacelerar o seu investimento nalguns países africanos, está a reduzir a sua exposição em certos países do nosso continente, e Angola será certamente um deles. Os chineses não terão gostado da forma como se renegociou o projecto da barragem de Caculo-Cabaça, de projectos da Barra do Dande, a forma como foram retirados do canal do Cafu, mais aborrecidos ficaram pela forma como foram convidados a sair do Corredor do Lobito. Terem ficado seis meses sem indicar embaixador para um país onde são os maiores credores e que parceria estratégica em várias áreas foi um também um sinal para demonstrar o seu desagrado.
O nosso embaixador chinês aos poucos irá deixar-nos perceber qual é a nova estratégia para Angola. Ao que sabemos, os chineses parece que não estão muito dispostos a largar dinheiro e vão pressionando para o pagamento da dívida. Certamente, não será uma viagem fácil e também se prevê um processo negocial tenso.
Em entrevista concedida ao NJ, o embaixador da Rússia em Angola, Vladimir Tararov, anunciou que o Presidente Putin formulou um convite a João Lourenço para visitar Moscovo em Abril deste ano. O diplomata russo informou-nos de que Vladimir Putin está disposto a receber João Lourenço em Moscovo, porque entende que "existem mesmo compreensões diferentes das situações, mas sem falar não podemos esclarecer as nossas posições".
Também sabemos que, até ao momento, o Palácio da Cidade Alta ainda não deu uma resposta oficial ao convite e nem avançou datas. Numa altura em que assumiu um
alinhamento estratégico com Washington, esse é um convite desconfortável para João Lourenço que, certamente, não quererá criar qualquer irritante na sua "paixão americana". Verdade também é que os russos não vão desistir facilmente e vão fazer uma pressão leve para obter uma resposta oficial. Aguardemos!