O número de habitantes em Luanda, de acordo com as projecções do Instituto Nacional de Estatística (INE), de 2019, era preocupante. Estimava-se que a capital, em 2019, atingiria os 8,2 milhões de habitantes, mantendo-se como a província mais populosa, representando 27,3% dos mais de 30 milhões de angolanos residentes.

Comparativamente, em 1960, a população de Luanda era de 224.540 habitantes (Censo 1960). Até essa data, Luanda situava-se distante como maior aglomeração populacional de Angola, com apenas 4,6% da população total (a população de Angola em 1960 era de 4.830.449 habitantes). Trinta anos depois, em 1990, estimavam-se números à volta dos dois milhões de habitantes. Actualmente concentra 27,3% da população total do país.

Se já no tempo colonial a cidade não tinha infra-estruturas para albergar no seu seio menos de meio milhão de habitantes, a desproporção actual torna a gestão urbana mais complicada, dramática mesmo. É patente a necessidade de optimizar os canais de distribuição da rede eléctricas, o aprimoramento de políticas de distribuição de água potável, de colecta e tratamento de esgoto, manejo de resíduos sólidos (popularmente chamado lixo) e de manejo de águas pluviais. É urgente a questão das águas pluviais, visto que as chuvas em Luanda causam, todos os anos, vítimas mortais e deixam famílias ao relento.

No ano passado, além de várias mortes, duas mil casas ficaram inundadas e mais de 1.500 famílias ao relento, segundo dados apresentados pela Comissão Provincial de Protecção Civil e Bombeiros, à Comunicação Social (Abril 2023). Inclusive afogamento de crianças menores de idade e mobilidade rodoviária complicada, com impactos muito negativos nas zonas do Rangel, Cazenga, Zango, Benfica e Golf II, como consequência das chuvas torrenciais que se abateram sobre a cidade de Luanda.

Além do cataclisma das chuvas, a falta de electricidade, nalgumas zonas periféricas, origina um casamento perfeito entre a escuridão e o crime, obrigando a segurança pública a redobrar o controlo nestas zonas a fim de garantir a segurança dos munícipes. Sem falar da iniciativa dos próprios munícipes constituírem brigadas de vigilância comunitária, como a mediática Turma do Apito, recentemente desactivada pela Polícia Nacional, como nos fez saber a imprensa.

O centro da cidade tornou-se o palco da venda informal. Além do comércio ambulante, começa, logo ao amanhecer, a instalação de pequenas barracas de venda de comida, calçados, roupas, medicamentos, etc. Passeios apertados e dificuldades de mobilidade pedestre. Sem falar da acumulação de lixo. Noutros focos, lavagem de viaturas em zonas inapropriadas. Obviamente que se trata de uma alternativa do cidadão desempregado conseguir um meio de sustento, para sanar as dificuldades. Mas expõe a ausência de controle e regulamento do comércio informal no centro urbano.

O lixo é um factor de risco à saúde. Além da poluição do ar, da terra e da água, pode, consequentemente, originar várias doenças. A acumulação de lixo nas vias públicas é uma das razões apontadas para o surgimento de surtos de cólera, que é transmitida, por exemplo, através de água contaminada. Até há pouco tempo eram notificados, em Luanda, vários casos de cólera. Dados recentes do MINSA indicam que Angola não tem registos de casos de cólera. É uma boa notícia. No entanto, as estratégias de reforço à vigilância epidemiológica, devem redobrar esforço no combate ao lixo, que é um dos factores de risco da doença.

Como seria de esperar, o aumento do crescimento urbano explosivo foi acompanhado pelo aumento da complexidade dos problemas urbanos. É claro, ademais, que a solução dos problemas de Luanda, resultante do crescimento urbano, só podem ser resolvidos no quadro de uma política urbana para Angola. "Será necessário diminuir expressivamente o êxodo para a capital, quer fixando as populações no campo, através de medidas económicas e sociais, quer revitalizando e criando condições atraentes de vida nas cidades médias e pequenas, estruturando uma rede urbana, interligada e solidárias", recomenda Pepetela no ensaio Luandando.