Com esta assinatura, cria-se a possibilidade de as valências académicas e científicas da UAN poderem ser postas ao serviço da organização do futuro aeroporto, designadamente no âmbito da classificação do mesmo como "Aeroporto Verde", o que significa não só reduzir as suas emissões de carbono, como cuidar da qualidade do ar, diminuir o ruído, gerir correctamente a biodiversidade do local, gerir toos os recursos em favor do espaço e da operação.

Este é o objectivo que a UAN se propõe alcançar, mas também é evidente que, através deste trabalho de cooperação, docentes, quadros do GONAIL e estudantes encontram um campo de trabalho para desenvolver pesquisas técnicas, tecnológicas e científicas, que podem levar a graus académicos de pós-graduação. Incluem-se as respectivas práticas de campo, onde podem ter contacto directo com os problemas reais que surgem a cada momento, como é exposto adiante. Estabelecemos e consolidamos, assim, um importante elo entre a formação dos jovens - UAN -, e o emprego para recém-licenciados - AIAAN.

Depois da assinatura do acordo, foi preparado um primeiro Plano de Projectos, do qual constam as acções a desenvolver, algumas das quais já estão em curso, como o levantamento da biodiversidade da área afecta ao NAIL (são mais de 13.000 Hectares). Este trabalho é da responsabilidade do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da UAN.

Para além do levantamento da biodiversidade, há que identificar, numa segunda fase, que tipo de vegetação deve ser alvo de reposição (seguindo uma estratégia para afastar as aves das pistas de serventia das aeronaves), assim como as espécimes resistentes ao fogo e com grande capacidade radicular para a retenção de terras, para se evitarem as tão temidas ravinas. Sempre que possível deverão ser utilizadas espécies autóctones.

Um dos estudantes de mestrado da Faculdade de Ciências Naturais está a desenvolver um estudo sobre a possibilidade de reciclar todos os lixos e resíduos produzidos nas acções aeroportuárias, nomeadamente de todos os resíduos biológicos, que podem ser transformados em fertilizantes do solo (BIOCHAR) e em hidrogénio verde, que pode substituir o gasóleo da frota de veículos do aeroporto, assim como de outros motores de combustão para diesel. A combustão de hidrogénio em motores para diesel apenas necessita de pequenas adaptações, designadamente do aumento de fornecimento de ar com um turbocompressor, o que também, ajudando a baixar a temperatura do motor, evita a produção de dióxido de azoto.

O Biochar resulta da pirólise do material orgânico (queima a 500 com ausência de oxigénio), resultando depois num produto que pode ser incorporado no solo para aumentar a sua fertilidade.
Por solicitação do GONAIL, deverá também ser registado o nível de ruídos verificados antes da operacionalidade do aeroporto, para memória futura e capacidade de comparação quando estiver operacional. Estes dados monitorados em contínuo serão disponibilizados para a comunidade internacional que acompanha o funcionamento deste tipo de infra-estruturas.
Poderão ainda ser efectuados estudos de geofísica para uma última avaliação da estrutura geológica da região, principalmente das áreas ocupadas pelas pistas e estacionamentos das aeronaves, assim como das construções ali edificadas.

Foi igualmente solicitada à UAN ajuda para "personalizar" o aeroporto, uma vez que, sendo as suas estruturas semelhantes em todo o mundo, quem aterre em Luanda poderia não ter nenhuma referência do país onde se encontra. Está em estudo, por isso, um modelo de decoração que identifique o nosso País, através de mostras de paisagens, flora e fauna (com ênfase especial nas espécies autocnes), povos, tradições e culturas nacionais. Não deixaremos de parte os esqueletos dos dinossauros descobertos em Angola. Para a arte contemporânea, existirão espaços específicos, a fim de que os nossos artistas possam expor, divulgar e comercializar as suas produções, uma vez que esta infra-estrutura será visitada por milhões de passageiros por ano.

No âmbito do acordo assinado entre as partes, a UAN deve equacionar a possibilidade de organizar cursos de engenharia aeronáutica em todas as suas vertentes, uma vez que o volume de aeronaves que deverão aterrar no NAIL justifica a presença de estruturas de apoio mecânico e electrotécnico (aviónicas), assim como ao pessoal de bordo e a todos os especialistas de apoio à navegação.

Numa fase posterior, o sistema de hotelaria e restauração dentro do empreendimento deverá ser reequacionado com a colaboração da Escola Superior de Hotelaria da UAN, sendo que esta já está a preparar-se para formar os quadros que no futuro deverão operar aquelas instituições.

Já está em preparação, sob responsabilidade das Faculdades de Ciências Sociais e de Humanidades, um programa de trabalho social a realizar junto das populações instaladas à volta do espaço de reserva do NAIL, para que as mesmas possam encarar o empreendimento como uma estrutura que lhes trará melhorias na sua qualidade de vida, através do apoio social, como escolas, postos médicos, água potável, energia eléctrica, vias de acesso, entre outros aspectos.
Este apoio deve ter como contrapartida a protecção do espaço da reserva, auxiliando as autoridades locais contra as ocupações ilegais, fogo posto, e outras acções que ponham em risco a actividade aeroportuária.

Dentro deste programa, a Faculdade de Medicina, o Instituto Superior de Ciências da Saúde e a Faculdade de Direito serão, igualmente, mobilizadas para que os seus docentes e discentes possam, periodicamente, ir ao local para dar assistência às suas áreas de especialidade aos residentes locais. Também os cursos de Engenharia e de Arquitectura deverão ser integrados neste tipo de apoio, para a criação de soluções locais de habitação condigna.

A terminar, enfatizamos o facto de este tipo de acções - a chamada extensão universitária - ser parte integrante do estatuto da UAN, que lhe permite a prestação de serviços a outras entidades.

O maior desafio enfrentado por estas iniciativas está relacionado com os regulamentos financeiros que não permitem o pagamento directo aos seus protagonistas, o que não incentiva esta prática.
Temos, por isso, defendido que as Instituições de Ensino Superior Público devem ter um estatuto de entidade público-privada, dando-lhe liberdade para poderem ser beneficiadas com os trabalhos que prestam, para além do que recebem do Orçamento Geral do Estado, que serve para cobrir os gastos obrigatórios inseridos nos seus currículos académicos.

A operacionalização da iniciativa que aqui apresentamos foi possível porque a UAN encontrou na pessoa do actual Coordenador do NAIL, Eng.ro Paulo Nóbrega, total abertura e entusiasmo, sendo estes aspectos amplamente apoiados pelo Ministro dos Transportes, Dr. Ricardo Viegas d"Abreu.
E é com este empenho e este entusiasmo que contamos para em conjunto fazermos do novo Aeroporto Internacional de Luanda um projecto estruturante com verdadeiro impacto na economia e nas nossas pessoas.
*Docente da Faculdade de Ciências Naturais da UAN