Nesta visita a Luanda, que termina na terça-feira, Recep Erdogan responde, num curto espaço de tempo, à deslocação do Presidente angolano à Turquia, em finais de Julho deste ano, o que demonstra o interesse de Ancara neste reforço das relações com Luanda no quadro de uma aposta planeada e estratégica deste país euro-asiático no continente africano, onde, por exemplo, já está em algumas frentes, desde logo na Guiné-Conacri e em países da África Oriental.

Recep Tayyip Erdogan chegou no domingo ao final da tarde a Luanda, tendo ainda neste mapa do périplo africano o Togo e a Nigéria, onde a Turquia também aposta em expandir a sua influência económica e política.

Com esta visita a Luanda, Erdogan, segundo o conteúdo dos acordos assinados em Ancara, a 28 de Julho, e os que agora estão em cima da mesa para concluir, deixa ainda mais em evidência as suas palavras aquando da recepção ao seu homólogo angolano, quando manifestou a intenção e o objectivo de criar laços sólidos com Angola, país que vê claramente como uma das plataformas de penetração africana da sua vasta e afinada capacidade industrial e empresarial.

Os vários pontos de interesse já estavam definidos e foram afinados ainda melhor com a recente visita de um grupo de empresários turcos a Angola.

Para trás, a cimentar esta relação em firme consolidação entre Ancara e Luanda está ainda, como o Novo Jornal noticiou na altura, em Fevereiro de 2017, o encerramento, pelo Governo de Luanda, e com alegada pressão do Governo de Ancara, de um colégio turco, supostamente com ligações ao movimento internacional de Fethullah Gullen, um conhecido académico islâmico com quem Erdogan mantém uma antiga e sólida relação de ódio pessoal.

A Turquia, recorde-se, é um gigante económico do espaço euro-asiático que tem pretensões de disputar espaço e influência económica e diplomática no continente africano, como ficou claro nos últimos anos com a sua aposta militar na Líbia, com apoio claro, e musculado, ao regime etíope do primeiro-ministro Abiy Ahmed, tendo mesmo procurado impor-se como mediador do conflito interno com os independentistas de Tigray.

A agenda intensa de Edogan, depois da deslocação à Cidade Alta, na segunda-feira, ao final da manhã, continua depois na Assembleia Nacional para uma sessão plenária, prosseguindo com um fórum empresarial, durante a tarde, e um jantar de gala.

Na terça-feira, o segundo dia da visita, com a partida prevista de Luanda para o Togo ao final da manhã, terá apenas como ponto de agenda as cerimónias de despedida no Palácio Presidencial.

A Turquia é um dos países, como Espanha, por exemplo, que com o seu "Foco África 2023" procura ocupar espaço nas oportunidades que África oferece, que estão na senda de ganhar influência em geografias que até aqui estavam "nas mãos" das tradicionais grandes potências, como a França, o Reino Unido, os EUA ou, mais próximo, a China.