O número insuficiente de campos para à prática de desporto, espaços que deram lugar, na maioria das situações, a novos edifícios, faz com que muitos jovens ocupem as estradas para jogar futebol, como constou o Novo Jornal Online numa ronda feita nos bairros de Luanda.

O director da juventude e desporto do Cazenga, Célsio de Carvalho, disse que reconhece o desaparecimento dos campos, mas garante que na requalificação do município serão criados novos polos desportivos para colmatar esta falha.

O gosto pela prática desportiva, particularmente futebol, sempre foi visto como o maior divertimento no seio dos jovens residentes nas zonas urbanas e periféricas da cidade, só que o insuficiente número de campos obriga-os a encerrarem algumas vias para poderem jogar à bola.

Segundo Carlos Cordeiro, de 57 anos, técnico de futebol do Suares, no Tala Hady, Cazenga, todas as tardes, principalmente aos sábados e domingos, o campo do Suares fica superlotado e muitos daqueles que não conseguem madrugar para ocupar o espaço acabam por ocupar as ruas e as estradas.

"Está é uma situação que se tem debatido muito com a administração municipal no sentido de se encontrar uma alternativa, como não há respostas os jovens arriscam jogando nas estradas, também porque o trânsito aos domingos é menor", disse Carlos Cordeiro.

Acrescentou ainda que uma das formas que encontraram para facilitar o acesso a muitas equipas que procuram um espaço, é dividir o campo em três ou quatro partes, mas, "mesmo assim não cabem todos".

Para o jovem Pedro Francisco, de 24 anos, o número reduzido de campos no município do Cazenga obriga a jogar em qualquer lugar desde que o "sangue do desporto que corre ansioso pelas veias seja libertado".

"Anteriormente tínhamos aqui grandes jogadores, mas hoje desapareceram, porque não há espaço. Alguns mergulharam no álcool e em outras práticas que podiam ser evitadas caso pudessem praticar desporto. É muito triste o que acontece no nosso país", lamentou.

O crescimento da província de Luanda e as construções de infra-estruturas que se vão registando por todo lado estão a acabar com os espaços públicos desportivos que anteriormente existiam nos bairros.

De acordo com Pedro Guilherme, outros dos jovens que lamenta esta situação, os terrenos baldios e arenosos eram os espaços onde, há muito tempo, se praticava a modalidade quando os campos ficavam superlotados, mas hoje "só resta disputar as estradas aos carros"

Os "Palancas" dos campos dos bairros

No entanto, muitos desses espaços acabaram por ser vendidos a empresas privadas, sem antes os donos criarem uma alternativa para os praticantes e amantes do futebol nos bairros.

"Estes espaços produziram grandes estrelas do futebol nacional que posteriormente se vieram a destacar na Selecção Nacional, nas competições internacionais, bem como no Girabola, o Campeonato Nacional de Futebol", disse, dando como exemplo Job, um dos craques dos Palancas Negras, entre muitos outros.

Para Pedro, este é um dos indicadores que faz com que a selecção nacional tenha ficado carente de jogadores com talento porque o futebol está a ser pouco praticado nos bairros devido à falta de campos.

Um bom exemplo do que está a acontecer em Luanda é o Cazenga, município que tinha sete campos, dentre os quais, dois foram vendidos pelos proprietários dos espaços, garantindo o director da Juventude e Desporto que a administração está a salvaguardar os poucos que ficaram.

"O Cazenga é um dos municípios que já não tem espaço para a construção de um campo e tem um número muito elevado de jovens que praticam a modalidade, razão pela qual já construímos quatro polos desportivos nos bairros para se evitar está situação que temos vindo a registar", apontou.

Acrescentou ainda que na requalificação que o município está a sofrer já foram identificados dois espaços para a construção de campos.

Quanto ao campo do Suares, que foi dividido com a empresa que está fazer a construção da ponte sobre a linha férrea na avenida Hoji ya Henda, o director garantiu que é uma colocação provisória até que a obra termine.

O ex-campo do Rodoviário, no Asa Branca, onde foi instalada a empresa dos Transportes Colectivos de Luanda (TCUL), é um dos que mais falta faz a quem procura praticar desporto em Luanda.

No Curtume, está localizado o ex-campo da Socifex, que deu lugar a uma fábrica de blocos, constituindo outro bom exemplo para o desaparecimento de espaços desportivos na cidade de Luanda.