Um glaucoma mal diagnosticado como catarata escureceu, aos 10 anos, a luz de Margareth Filipe, mas não apagou a chama do sonho da formação superior. Com 33 anos, Margareth é uma das poucas estudantes com deficiência visual no ensino superior no País, numa jornada marcada por inúmeros desafios: falta de infra-estruturas adequadas, de máquinas e materiais em braille, de recursos tecnológicos e de uma cultura de inclusão nas universidades que transformam a experiência académica numa longa e dura viagem.
Natural de Luanda, Margarete é estudante do 3.º ano de Comunicação Social na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, a maior e mais antiga instituição de ensino superior pública. Na sala de aulas, faz dos ouvidos os seus olhos. Sentada na primeira fila, atenta a cada palavra do professor, diferente dos outros estudantes, na mão não segura uma caneta, mas um telemóvel. O aparelho, no modo de gravação, é uma ferramenta essencial para capturar cada palavra ou frase. A aula gravada é a única garantia de que, mais tarde, em casa, poderá reouvir e transcrever as próprias notas, um método que adoptou para contornar a ausência de recursos na instituição.
Margarete, 33 anos, não tem dúvidas de que a instituição não tem as condições preparadas para estudantes com deficiência. A sua solução - o gravador do telemóvel - é um "remendo" pessoal para uma falha institucional. "Tive de criar as minhas condições, tive de comprar um telefone adequado para poder gravar as minhas matérias, mas nem todo o mundo tem essas condições", lamenta.

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