Esta informação sobre a data do início do julgamento do alegado líder dos protestos populares que em Janeiro de 2021 provocaram dezenas de mortos, na área mineira do Cafunfo, naLunda Norte, quando as forças de segurança reagiram com violência, foi avançada ao Novo Jornal pelo seu advogado, Salvador Freire.

"Estamos ansiosos para participar neste julgamento. Mas, entretanto, não sabemos o dia em que o SIC vai encaminhar o nosso cliente para a província da Lunda Norte, onde o seu julgamento vai começar no dia 28", disse Salvador Freire dos Santos.

José Mateus Mutchima "Zecamutchima", com outros elementos do seu Movimento, é arguido no processo-crime n° 111/2021 e está acusado nos crimes de rebelião e associação de malfeitores, cujos trâmites correm por competência territorial na província da Lunda-Norte, onde será ouvido em torno da instrução preparatória do referido processo-crime.

Segundo o advogado, o estado de saúde do seu cliente é "muito preocupante", tendo em atenção o seu nível de hipertensão que está a subir perigosamente sem que lhe esteja a ser prestada assistência médica adequada.

"Fizemos um requerimento para o SIC e para o Ministério Público no sentido de prestarem atenção ao nosso cliente. A situação agravou-se e só no sábado passado, às 22: 00. É que o levaram para o Hospital Américo Boavida onde lhe foram prestados os primeiros socorros e depois voltou para o calabouço", informou.

A detenção de José Mateus Zecamutchima resultou dos incidentes da alegada rebelião armada registada na vila mineira de Cafunfo, município do Cuango, província da Lunda Norte, que a 30 de Janeiro do ano passado provocou a morte de várias pessoas, supostamente pertencentes ao auto-denominado Movimento Protetorado Lunda-Cokwe, que as autoridades diz que tentaram tomar de assalto uma esquadra da Polícia Nacional.

Histórico

A Polícia Nacional (PN) falava, horas depois dos acontecimentos, em quatro mortos e vários feridos mas fontes citadas a partir da Lunda Norte próximas do denominado Movimento Protectorado da Lunda Tchokwe admitiam mais de uma dezena de vítimas mortais naquilo que diziam ser mais uma acção de reivindicação autonomista deste movimento. Versões contraditórias apontavam para protesto armado, segundo a polícia, pacífico e legal, de acordo com o Movimento.

Segundo o relato da polícia, através do seu departamento de comunicação da Lunda Norte, na madrugada de Sábado, 30 de Janeiro de 2021, cerca de 300 elementos ligados ao Movimento Protectorado Lunda Tchokwe, armados com espingardas automáticas AKM, de caça e armas cortantes e engenhos explosivos artesanais, procuraram invadir a esquadra da vila do Cafunfo-Cuango.

Ali, ainda segundo a polícia, procuraram colocar uma bandeira do seu movimento, tendo, nesta acção, ferido dois oficiais, um da PN e outro das Forças Armadas Angolanas, tendo igualmente resultado na morte de quatro destes elementos e ferimentos em cinco, dois destes acabaram por sucumbir posteriormente já em tratamento hospitalar.

Fontes citadas a partir da Lunda Norte por vários media nacionais e internacionais apontam para a morte de pelo menos 14 pessoas e cerca de duas dezenas de feridos graves, embora o número de vítimas nunca tenha sido definido com absoluta certeza.

A polícia denominou esta acção do Movimento Tchokwe como um "acto de rebelião", sendo mais uma das muitas que nos últimos anos é organizada por este movimento autonomista que reivindica a autonomização das Lundas face ao poder central de Luanda, ao qual as autoridades nacionais dedicam especial atenção em matéria de segurança e "intelligentsia", sendo comuns as detenções dos seus lideres ou simples elementos de base.

Recorde-se que a versão dos dirigentes do Movimento apontava, logo nessa altura, para uma outra realidade no terreno, nomeadamente a ausência de armas entre os elementos que se manifestaram naquela madrugada/manhã.

José Mateus Zecamutchima, presidente do Movimento do Protectorado da Lunda Tchokwe, disse na ocasião que as forças de segurança avançaram contra os manifestantes quando estes se dirigiam para o local marcado para a concentração, tendo negado qualquer tentativa de ocupação da esquadra da PN no Cafunfo, tendo a manifestação sido precedida de uma informação ao governo provincial como a lei determina.