Após 55 dias de confinamento, França começou a adoptar medidas para voltar ao normal. Por exemplo, as aulas presenciais no ensino primário já recomeçaram. Como olha para isso?

O Governo francês tomou, rapidamente, medidas de encerramento dos estabelecimentos de ensino franceses, desde o início da pandemia, para evitar que se tornassem potenciais clusters de propagação. As actividades de ensino foram, no entanto, mantidas, graças a uma utilização sistemática dos meios digitais. O regresso às escolas faz-se, portanto, de forma progressiva, sem que tenha havido ruptura dos ensinamentos, o que é essencial. As escolas são, também, locais de sociabilidade e de convivência, que pressupõem que os alunos e os professores possam interagir directamente. Este regresso vem, portanto, permitir que a ligação se reate, antes do fim do ano lectivo francês, no final de Junho.

Como o Liceu Francês de Luanda vai lidar com esse reinício das aulas em França, uma vez que em Angola se mantém (por mais 45 dias, pelo menos) a proibição de as escolas abrirem?

Do nosso ponto de vista, não há dúvidas: sobre qualquer questão sanitária ligada à Covid-19, o Liceu seguirá as directrizes dadas pelo Estado angolano. Assim, enquanto se mantiver o encerramento dos estabelecimentos escolares angolanas, o Liceu Francês não reabrirá e manterá os seus ensinamentos à distância. Em função das decisões tomadas pelas autoridades angolanas, adaptámos o nosso dispositivo, tendo em conta as medidas de protecção decididas pelas autoridades francesas e aplicadas aos estabelecimentos de ensino franceses no estrangeiro.

Com as projecções da OMS a indicarem que o "pico" da Covid-19 ainda está por vir, não receia que, no final das contas, os alunos formados no Liceu Francês de Luanda fiquem atrás dos de França, visto que as aulas on-line não são a mesma coisa que as presenciais?

Os alunos em França também passaram por períodos de ensino à distância, antes das experiências vividas pelos do Liceu de Luanda. Os períodos e os níveis serão aproximadamente equivalentes, não haverá diferença de qualidade.

Sobre este último aspecto, há ainda o facto de Angola, como se sabe, ter dificuldades ligadas ao funcionamento pleno da internet. Como tem o Liceu Francês de Luanda lidado com isso?

As ferramentas e as plataformas digitais instaladas em Angola não tiveram grandes problemas de funcionamento. Elas são projectadas para ser eficazes em vários tipos de dispositivos, do smartphone ao computador, incluindo o tablet. Os professores do Liceu mantiveram-se em contacto com os alunos e os seus pais para se assegurar de detectar, o melhor possível, as eventuais dificuldades de conexão ou de acompanhamento. É claro que nem tudo é perfeito, mas o Liceu vai lançar um inquérito para recolher as impressões dos pais sobre este dispositivo, para o avaliar e, se necessário, fazê-lo evoluir em caso de necessidade.

No Caso em que se registe um total desencontro entre as recomendações (ligadas sobretudo a datas) dos Governos de França e de Angola, tendo o Liceu Francês de Luanda de optar por seguir um lado, qual seguirá? Angola ou França? Porquê?

Como já referi, as questões sanitárias e, de um modo mais geral, de segurança dos alunos e dos funcionários do Liceu serão tratadas no respeito das decisões e das disposições tomadas pelas autoridades sanitárias angolanas e em concertação com os Ministérios da Educação e das Relações Exteriores.

No que toca a propinas, qual é o cenário do/no Liceu Francês de Luanda? Os pais pagam ou não pagam os «meses de confinamento»? Porquê?

Tendo-se mantido a continuidade do ensino, as famílias têm de pagar a factura normal do trimestre. Os custos associados à manutenção das actividades do Liceu à distância são sempre reais e não virtuais.

Em Angola, por exemplo, este assunto foi resolvido com a definição de um tecto máximo de até 60%. O que acha desta medida? Poderia o Liceu Francês de Luanda vir a proceder da mesma forma? Porquê?

Este limiar foi calculado em função de um modelo económico, que é o dos estabelecimentos angolanos. O Liceu Francês funciona de maneira completamente diferente, tanto em termos de calendário como de estrutura pedagógica, ou para os exames preparados. O Estado francês é o seu garante e contribui de forma directa e significativamente para o orçamento para o seu funcionamento e gestão, nomeadamente colocando à sua disposição professores que são funcionários públicos franceses. Deste ponto de vista funcional e pedagógico, o Liceu Francês, que funciona no âmbito da cooperação bilateral entre França e Angola, não está directamente ligado ao sistema educativo angolano, do qual não recebe financiamento. Em contrapartida, é um fantástico instrumento de cooperação educativa entre os dois países e apoia numerosos projectos de ensino, como, por exemplo, a rede das escolas angolanas "Eiffel".

Tendo a Alliance Française de Luanda encerrado o estabelecimento, suspendendo as actividades culturais a 15 de Março, quanto está a perder a instituição com esta paralisação?

Para a Alliance Française, esta crise também foi um momento de redefinição e de construção de modalidades de ensino à distância. A maior perda não seria económica, mas humana, se a ligação se perdesse com o seu público. Deste ponto de vista, tudo foi feito para que fossem disponibilizados conteúdos pedagógicos e culturais em linha, para que os alunos e, mais amplamente, os amigos da Alliance Française esperassem pelo tempo do Estado de Emergência. Mas, tal como no Liceu, esperamos que a sua reabertura como lugar de vida seja possível rapidamente.

Que eventos (dizer quantos, se possível) a Alliance Française de Luanda deixou de realizar devido à paralisação imposta pela Covid-19?

Para já, os principais eventos anulados foram os ligados à celebração da Francofonia, em Março. A festa e o concerto previstos no Palácio de Ferro, o Festival de Cinema Francês, a noite "Goûts de France "... Mas preferimos falar de adiamento em vez de anulação. É preciso saber manter-se optimista!

A Alliance Française de Luanda já projecta uma reabertura dos seus estabelecimentos? Porquê?

Não considerámos a reabertura pública enquanto vigorava o Estado de Emergência. Contudo, a Alliance Française, como qualquer associação angolana, manteve, até agora (e ainda mantém!), actividades administrativas internas, com os seus próprios funcionários, nas condições previstas pelos decretos oficiais. O trabalho em curso está centrado na preparação da retoma das actividades, logo que as condições estejam reunidas para as fazer.

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