Este investimento, realizado desde o ano 2000, cuja soma resulta de um estudo realizado pela Universidade de Boston, EUA, foi canalizado para o continente africano, na sua esmagadora maior parte, através dos dois maiores bancos de investimento do mundo, o Banco de Desenvolvimento da China e o Eximport e ainda o Banco Comercial da China.

Na lista dos maiores destinatários deste investimento estão seis países, com Angola à cabeça, seguindo-se a Nigéria, com 6,6 mil milhões USD, e depois a Zâmbia, o Uganda e a África do Sul, neste sentido descendente, com valores acima de 2 mil milhões, aparecendo ainda o Sudão com uns interessantes 1,6 mil milhões e os restantes países com cerca de 11 mil milhões.

No que respeita a Angola, os 8,9 mil milhões de dólares são essencialmente dirigidos à construção de barragens, destacando-se o projecto de Caculo Cabaça, na bacia do Rio Kwanza, cuja primeira pedra foi lançada pelo ex-Presidente José Eduardo dos Santos num dos seus derradeiros actos antes de abandonar o cargo com as eleições de 23 de Agosto do ano passado.

A barragem de Caculo Cabaça tem um custo estimado de 4,5 mil milhões de dólares, o mais caro a correr em Angola e está a ser erguido por um consórcio de empresas chinesas, com capacidade para elevar a produção eléctrica do país aos 9 000 MWe (Megawatts eléctricos).

Implicações diplomáticas

Este estudo, que surge num momento em que o Secretário de Estado norte-americano, que é quem tutela a diplomacia dos EUA, Rex Tillerson, numa deslocação ao continente africano, no Quénia, apelou aos países do continente para terem um especial cuidado com a influência chinesa conquistada através deste tipo de financiamentos.

Tillerson, que foi sobejamente criticado por este pronunciamento, mostrou aquilo que se sabia ser um sentimento profundo em Washington mas ainda não tinha sido reflectido em palavras de uma figura de proa do Governo norte-americano, deixando claro o incómodo ocidental com a crescente penetração chinesa em África, quer no âmbito económico como também na vertente militar.

Uma das razões para esta aposta chinesa em África, para além de abrir portas de acesso prioritário aos recursos naturais do continente, está o facto de todas as estimativas apontarem para uma explosão demográfica nos próximos anos, mais de 1, 3 mil milhões de habitantes até 2050, aumentando assim a necessidade energética, ao mesmo tempo que se alarga exponencialmente um mercado para as suas exportações.

No entanto, apesar de volumoso e mostrar uma crescente importância do olhar chinês para o continente, o investimento chinês em África é ainda baixo quando comparado com o que Pequim está a fazer e fez na Europa e na Ásia Central, próximo dos 69 mil milhões USD, ou na América Latina, chegando aí aos 62 mil milhões, ou os 60 mil milhões dirigidos para a Ásia.

E, numa demonstração clara de que Pequim e o Presidente Xi Jinping não olham para África com qualquer espécie de menoridade, está a promessa, feita em 2015, de elevar o investimento chinês em África para os 60 mil milhões até ao final de 2018.

Os analistas sublinham que mesmo que esse objectivo ambicioso não seja atingido, fica pelo menos claro o empenho de Xi e do seu Governo em demonstrar o seu compromisso com o continente africano e com a ideia de que a China e os países africanos têm um longo caminho comum a percorrer rumo ao desenvolvimento.

Mas é igualmente sublinhado por cada vez mais analistas que esse caminho rumo ao desenvolvimento que a China pretende abrir em África não é suficientemente largo para nele seguirem também as potenciais ocidentais ou mesmo a Rússia, que, tal como os EUA, nos últimos dias, enviou o seu ministro dos Negócios Estrangeiros para um périplo estratégico por África, que iniciou em Luanda.

Um outro estudo, citado recentemente pelo Financial Times, a partir do Afrobarometro, sobre qual dos países são mais apreciados como modelo de desenvolvimento, envolvendo 36 países africanos, a China surge em segundo lugar, logo depois dos EUA, com 24 e 30 por cento respectivamente.

Tal como sucedeu com Angola, logo após o fim da guerra, os países ocidentais perderam o comboio africano que, a necessitar urgentemente de investimento externo, encontrou em Pequim um parceiro disponível.

Com superavit em divisas e capacidade comercial e industrial instalada, para acorrer a quase todas as carências do continente em matéria de reconstrução de infra-estruturas, construção de habitação e mesmo em empréstimos para "salvar" os parceiros africanos de outras dívidas acumuladas, a China acabou por afastar com luva branca a influência das antigas potencias ocidentais e da Rússia que, agora, procuram recuperar o tempo perdido, como se viu com as visitas de Tillerson e Lavrov a África.

E o Secretário de Estado norte-americano foi mais longe ao apelar aos países africanos para que, nas suas relações com a China, não permitam a Pequim conseguir domínio sobre áreas de interesse soberano.

Para já, até porque em regiões como a Europa ou os EUA, os investimentos chineses estão a encontrar maior resistências legais, é de esperar que África venha a crescer em importância para o fluxo dos investimentos chineses que, na verdade, é dinheiro resultante do largo excedente comercial entre a China e o mundo... e que parado de nada serve.