Este esforço da economia japonesa num projecto em África surge, para além da oportunidade de negócio, segundo o Nikkei Asia Review, publicação japonesa especializada na economia asiática, como uma demonstração do poderio económico japonês para ocupar o espaço que se espera que a China venha a deixar vago no contexto das dúvidas que começam a ser levantadas por causa das "excessivas dívidas" dos países africanos para com o gigante asiático.

A publicação japonesa sublinha ainda que a China, que mantém em bom ritmo a prossecução do seu gigantesco projecto "Cinturão e a Estrada - One Belt, One Road", suporta inúmeros projectos em África e é hoje responsável por "mais de metade da dívida externa angolana", país onde está como grande investidor desde 2002.

Recentemente, o ministro das Finanças, Archer Mangueira, colocou em 23 mil milhões USD o valor global da dívida de Angola à China.

Tal como sucede em numerosos países africanos, reafirma o Nikkei, o que levou a que muitos destes Estados comecem a observar sérias dificuldades para responder às suas obrigações com Pequim.

Indo ainda mais longe, lembra que o Governo do Japão, temendo que o declínio das moedas nacionais dos países emergentes possa desestabilizar a economia global, muito por causa dessa dívida excessiva à China, vai querer debater o assunto quando receber a Cimeira do G20, em Osaka, no próximo mês de Junho, que terá como um dos temas principais a questão da sustentabilidade da dívida entre os países emergentes e desenvolvidos.

Esta perspectiva avançada pelo Nikkei Asia Review, que é a mais importante publicação do NIkkei, o jornal com maior tiragem mundial - cerca de 4 milhões de exemplares vendidos diariamente - e considerado como um dos mais bem informados jornais do mundo sobre a economia asiática, ao mesmo que avança com a notícia do investimento no Namibe, sublinha a importância deste passo para colocar o Japão como um dos grandes interessados no recuo da China enquanto estandarte do investimento externo nas infra-estruturas africanas.

É ainda nesse sentido que a publicação sublinha que tanto os homens de negócios como o Governo japonês garantem a sustentabilidade da dívida dos países onde possam actuar, bem como o lucro obtido através desses investimentos, ao mesmo tempo que definem um modelo para a exportação de infra-estruturas para as economias emergentes.

Recorde-se que o investimento na Baia do Namibe foi aprovada por despacho presidencial publicado na segunda-feira, incluindo a autorização ao Ministério dos Transportes a incluir o projecto na linha de financiamento para Angola do Banco para a Cooperação Internacional japonês (JBIC, sigla em inglês)

De acordo com informação da Toyota Tsusho, o plano prevê o recurso a materiais e equipamento japoneses para a construção da infra-estrutura portuária, através de um contrato com o Governo angolano, financiado pela linha com o JBIC.

A construção de um novo porto marítimo no Namibe é considerado estratégico pelo Executivo de João Lourenço para desenvolver a indústria mineira extractiva do sul de Angola, especialmente a exploração de ferro na Huíla, cuja exportação passa, hoje, obrigatoriamente pelo porto de Moçâmedes.

Este acordo prevê ainda que uma parte do dinheiro necessário para a construção da infra-estrutura seja oriundo de empréstimos da banca privada, sendo que essas verbas estarão asseguradas pelo Seguro Nipónico para as Exportações e Investimento.