O barril de Brent (Londres), que define o valor das exportações angolanas, entre a pressão em alta da OPEP, devido ao continuado corte na produção, e em baixa, pelo aumento claro da extracção do alternativo "fracking", ou petróleo de xisto/shale, nos EUA, está a conseguir furar a barreira pessimista instalada no início deste ano e voltou a subir nos gráficos.

Os produtores do chamado petróleo alternativo ou de xisto (shale), extraído do miolo da rocha explodindo-a com água a alta pressão no subsolo, não perderam tempo e quando, em meados de 2017, o barril de crude se aproximava dos 60 dólares - o "breakeven" para esta produção, substancialmente mais cara que a tradicional on shore e off shore está entre os 67 e os 70 USD -, voltaram a reactivar os seus engenhos, parados depois de milhares de falências nesta indústria provocadas pela quebra abrupta do valor do barril em 2014/15.

Nesta montanha-russa dos gráficos mostrados pelos sites especializados e as agências económicas, a partir de Janeiro de 2017, quando teve início o plano de cortes de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), só faltava aquela parte da queda vertiginosa, depois de um ano de clara recuperação, de menos de 40 USD para os 70, conseguidos nos primeiros dias deste ano.

Faltava a parte da descida na montanha-russa que suspende o fôlego... mas esta apareceu, embora timidamente, nas duas últimas semanas, onde o barril de Brent deu um trambolhão dos mais de 70 dólares para os 62.

Embora já esteja de novo a recuperar, com o mercado londrino a mostrar hoje o barril nos 65,22 dólares na abertura, há um gume afiado sobre os interesses dos países produtores/exportadores, como é, na linha da frente dos mais interessados, o caso de Angola, devido à sua extrema dependência desta matéria-prima - mais de 95 por cento do total das suas exportações -, que são os produtores do shale/xisto.

Ao que tudo indica, está em curso uma guerra de fina estratégia entre os senhores do "fracking" e os produtores cartelizados na OPEP e os seus associados nos planos de cortes iniciados a 01 de Janeiro do ano passado para controlar em alta os preços, para ver quem consegue manter ou trespassar a ténue linha que separa o lucro do prejuízo.

Isto porque, se de um lado, os lideres da OPEP sabem que não podem cortar muito porque isso faz subir os preços, tornando rentável a produção do xisto/shale, sendo claro, por isso, como já o disse o ministro saudita dos Petróleos, Khalid A. Al-Falih, que o ideal é manter o barril próximo dos 60 dólares para evitar a gula pelo lucro dos produtores alternativos norte-americanos, assegurado a partir dos 67/70 USD por barril.

Mas, por outro lado, a indústria do shale/xisto sabe que se investir muito - numa produção que é ainda muito cara quando comparada com a tradicional -, basta à OPEP abrir as torneiras da produção para que o barril desça, pondo em causa os seus investimentos.

Até porque, como esta indústria bem conhece, o risco não é pequeno, bastando recordar os milhares de produtores que foram à falência em 2014/15 com a queda tremenda dos preços - de quase 150 em 2008 para os escassos 30 no início de 2016.

Com enormes dívidas aos bancos e com estes a temerem perdas avultadas de novo, o regresso da indústria do xisto, que está a acontecer desde que o barril traspassou a barreira dos 60 USD, sabe que percorre uma fina corda-bamba onde a queda espreita a cada solavanco.

Perante este cenário, onde a guerra é ganha na estratégia e não na força bruta, os "xeiques" da OPEP e os seus novos amigos da Rússia, parecem estar a levar a melhor, porque, como já se disse, Khalid A. Al-Falih, ministro da Arábia Saudita que tutela a energia, e o seu homólogo russo, Alexander Novak, deixaram bem claro que vão controlar a produção de acordo com uma regra simples: abrir a torneira quando o preço do barril for boa para os produtores de shale/xisto e fechar quando o valor do barril se aproximar dos 60, em baixa, sendo este valor considerado mesmo o "ideal" para os países produtores/exportadores.

Impossível de controlar são as crises políticas e a instabilidade em países africanos e do Médio Oriente, como é o que sucede actualmente e que está a impulsionar os preços de forma directa.

Para além do resto, Israel e o Irão voltam a estar de espadas apontadas, desta feita com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acossado pela justiça devido a suspeitas de corrupção, a ameaçar atacar directamente Teerão por causa de escaramuças na fronteira com a Síria.

A danificar ainda o ambiente para o negócio do petróleo estão ainda os problemas no Iraque e na Síria a envolver os Curdos e a Turquia, na região petrolífera por excelência do norte do Iraque.

Este cenário e uma ligeira queda do Euro face ao dólar, são as causas apontadas pelos analistas para esta recuperação do barril de petróleo nos mercados registada nos últimos dias.

Para já, certo, certo, é que para Angola, o valor do barril a aproximar-se dos 70 USD de novo, só podem ser boas notícias.