Este encontro, onde França, Reino Unido, Alemanha, e, entre outros, Países Baixos e Bálticos, deixaram em cima da mesa a possibilidade de forçar o envio de forças terrestres para a Ucrãnia no âmbito das garantias de segurança a Kiev para eventuais futuras agressões russas, teve lugar depois de Donald Trump e Vladimir Putin terem reunido, na sexta-feira, 15, no Alasca, EUA (ver aqui), e definido um novo "plano" para acabar com a guerra.

Logo após esse encontro (ver aqui e aqui), o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi, acompanhado da "coligação da vontade", a Washington para um momento histórico, mais um após o do Alasca, onde se previa que os europeus fossem informados sobre as decisões assumidas com Putin em Anchorage mas que, afinal, se transformou numa nova, frente de batalha diplomática com Moscovo.

Isto, porque a estratégia do chandeler alemão Friedrich Merz, que insistiu num cessar-fogo incondicional e o envio de forças ocidentais para a Ucrânia, do Presidente francês, Emmanuel Macron, que tratou Putin como "um ogre ameaçador à beira da Europa", e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que não aceita cedências a Moscovo e defende "mais pressão sobre o Kremlin", é agora ir "all in" contra os russos.

E isso é o mesmo que dizer que a "coligação da vontade" se prepara para não deixar que o assunto da guerra na Ucrânia fique exclusivamente na alçada de norte-americanos e russos, secundarizando a Europa, que, de resto, é o que está a acontecer e a provocar a fúria nas capitais europeias, ameaçando com aquela que seria a linha vermelha mais carregada de Moscovo: a presença de forças militares da NATO" em solo ucraniano.

Enquanto essa ameaça ficou apenas no contexto europeu, em Moscovo, Vladimir Putin e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, que têm mais tempo de governação que os "aliados" ocidentais todos juntos, remeteram-se ao estratégico silêncio de que os russos não abdicam, sabendo que a Europa sem os EUA é um anão militar e não arriscariam nunca um confronto com Moscovo sem a retaguarda norte-americana.

Mas o problema surgiu quando, mesmo depois de ter garantido a Putin, no Alasca, que não haveria em nenhuma circunstância, tropa americana no solo ucraniano, no âmbito das garantias de segurança para o pós-guerra, admitiu em Washington, quando recebeu Zelensky e os seus acompanhantes europeus na Casa Branca, que estaria disponível para apoiar as forças europeias com meios aéreos "porque ninguém tem aviões tão bons como os EUA".

Ora, com esta mudança, aparente, de "chip" na cabeça de Donald Trump, em Moscovo o Kremlin viu-se na necessidade de reagir e fê-lo através do chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, começando este por aviusar que quaisquer conversações sobre garantias de segurança para a Ucrânia sem a participação das Federação Russa "é entrar numa estrada que não vai para lado nenhum".

Isto, depois de Vladimir Putin ter dito a Trump no Alasca que a Rússia está disponível para discutir a questão das garantias de segurança para Kiev no contexto de um acordo de paz que venha a ser assinado.

O mais antigo ministro dos Negócios Estrangeiros em serviço em todo o mundo, ou quase, que surpreendeu, com ironia, o mundo ao chegar a Anchorage, para o encontro entre Putin e Trump, com uma camisola com as letras CCCP (URSS) estampadas na camisola, disse, reagindo à ameaça da "coligação da vontade", que Moscovo não concorda com nenhuma forma de conversar sobre a Ucrânia do pós-guerra sem a sua participação.

"Nós não podemos concordar com a proposta de resolver questões de segurança colectiva (na Europa) sem a presença da Rússia. E se tal vier a suceder, não vai funcionar", avisou, acrescentando estar seguro de que no Ocidente, especialmente nos EUA, existe a consciência perfeita de que tratar destes assuntos sem Moscovo "é apena utopia, é uma estrada para lado nenhum".

E disse ainda que a aposta de Trump num encontro entre Putin e Zelensky, que os europeus também defendem quando dizem que a Ucrânia tem de estar à mesa das negociações sobre a guerra, "tem de ser meticulosamente preparado" de forma a "não conduzir a um agravamento da situação em torno do conflito em vez de o resolver".

Lavrov foi ainda mais longe e apelidou de "tentativas desajeitadas" para mudar a cabeça do Presidente Donald Trump o que os europeus estão a fazer, notando que "para já só se vê uma escalada agressiva da situação por parte dos europeus" com esse "inadequado comportamento".

Mas esta não é a primeira vez que este assunto salta para o centro das atenções, porque Vladimir Putin tem, sempre que apresenta, como faz em Julho de 2024, e já este ano reafirmou, as condições para acabar com o conflito, sublinha que de forma nenhuma será aceitável para Moscovo a presença de forças ocidentais e dos países da NATO em solo ucraniano.

Alias, foi num desses momentos que o chefe do Kremlin advertiu para os riscos que essa ideia transporta, tendo mesmo anunciado a sua nova arma, o míssil hipersónico Oreshnik, com múltiplas cabeças nucleares ou não, que considerou "impossível de deter" pelo Ocidente desafiando mesmo a NATO a escolher um alvo na Ucrânia, protegê-lo com os seus melhores sistemas anti-aéreos para ver se o conseguem parar e que, entretanto, já está em produção industrial acelerada, como o próprio frisou.

Os analistas militares, como o major-general Agostinho Costa, têm sublinhado que o envio de forças militares dos países da NATO para a Ucrânia é o caminho certo e acelerado para um confronto com a Rússia e que essa eventualidade levará sem dúvidas à III Guerra Mundial que evoluiria rapidamente para um Amagedão nuclear.