É uma humilhação para o kremlin ver os seus planos das festividades perturbados quando espera, entre outros, os Presidentes da China, Xi Jinping, do Brasil, Lula da Silva, de Cuba, Miguel Díaz-Canel, da Venezuela, Nicolás Maduro, ou ainda o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico.

Mas é o que está a suceder já pela segunda noite consecutiva, com as autoridades aeroportuárias de Moscovo a verem-se na obrigação de encerrar os quatro aeroportos internacionais da cidade, o Domodedovo, Sheremetyevo, Vnukovo e Zhukovsky.

E a razão para este incómodo no Kremlin é já bem conhecida. Foi devido a ataques com drones disparados pelos ucranianos com o notório objectivo de estragar a festa especial que Vladimir Putin preparou para o redondo 80º Aniversário da vitória sobre os nazis.

E os ataques, apesar de não terem provocado danos de maior, tiveram sucesso, porque estão a ser noticiados em manchetes tanto nos media russos como nos grandes sites e televisões internacionais.

Além dos drones contra Moscovo, Volodymyr Zelensky está a apostar igualmente as suas "fichas" numa nova incursão terrestre na região russa de Kursk, com o mesmo objectivo: estragar a festa do chefe do Kremlin e dos seus convidados.

Desta feita, as forças de Volodymyr Zelensky, como relata The Guardian, reentraram neste território da Federação Russa, Kursk, que tem uma pesada carga simbólica no âmbito das grandes batalhas geradas pela invasão nazi da então URSS pelas forças alemãs na II Guerra Mundial.

Este episódio perturbador dos planos do Kremlin visa gerar insegurança para as comemorações pela Rússia a 09 de Maio, com uma gigantesca parada na Praça Vermelha, em Moscovo, marcando o papel do Exército Vermelho no fim da II Guerra Mundial.

Para já, nesta terça-feira, 06, a apenas 72 horas das festividades em Moscovo, não há registo de quaisquer alterações ao programa de chegadas dos VIP que se vão sentar com Vladimir Putin nas bancadas de honra a ver a parada militar que, tal como noutros anos, vai contar com uma unidade militar chinesa.

Mas o site da russa RT, citando o autarca da capital da Federação, Sergei Sobyanin, refere que as defesas antiaéreas de Moscovo foram accionadas por diversas vezes para repelir vagas sucessivas de drones lançados pelos ucranianos sobre Moscovo.

Há, porém, uma dúvida saliente sobre os céus do leste europeu: vai ou não Zelensky aceitar o cessar-fogo de três dias, a começar à meia-noite de quarta-feira, 07, proposto por Putin?

Apesar de já ter dito que não garantia a segurança das festividades em Moscovo (ver links em baixo) e dos convidados do Kremlin, Zelensky não disse em nenhum momento que iria desferir quaisquer ataques no dia 09 contra a capital russa.

A maior parte dos analistas defendem que em Kiev haverá o bom senso de não atacar Moscovo no momento alto das festividades em Moscovo, porque isso seria abrir as portas a uma escalada nesta guerra que ninguém poderia prever a dimensão.

Isto, quando o antigo Presidente russo e actual vice-presidente do Conselho Nacional de Segurança, Dmitry Medvedev, apesar de já ninguém o levar muito a sério devido às suas insistentes e ruidosas ameaças, ter avisado que se esse ataque acontecer "Kiev deixa de existir no momento seguinte".

Tal cenário é claramente uma carta fora do baralho, porque nem os mais férreos falcões de guerra e defensores da entrada da NATO no conflito ao lado de Kiev, como alguns comentadores militares europeus, admitem que Zelensky dará esse passo em direcção ao Armagedão ucraniano.

Mas está a ser igualmente visto como um elemento de pressão sobre Putin para que este, ao invés de um cessar-fogo de três dias, que visa exclusivamente dar segurança às festividades do 09 de Maio, aceite parar as hostilidades por 30 dias, como pretende Zelensky.

A ideia de Zelensky foi liminarmente rejeitada pelo Kremlin alegando os russos que Kiev pretende apenas parar os combates para poder recuperar da situação difícil que está na linha da frente e poder reabastecer os seus arsenais com um fluxo seguro de armas ocidentais.

Uma ajuda a Moscovo vinda da Alemanha

Entretanto, aquele que é um dos mais empenhados defensores do aumento da pressão militar e económica europeia contra a Rússia, o líder da União Democrática Cristã (CDU), Friedrich Merz, que venceu as eleições há cerca de dois meses na Alemanha, acaba de falhar a nomeação para chanceler.

Numa humilhante rejeição no Parlamento alemão, Merz fica assim exposto à necessidade de se sujeitar a uma segunda ronda de votação, que pode acontecer dentro de dias, para consolidar o Governo com os sociais democratas do SPD de Olaf Scholz.

O actual chanceler, Scholz, mostrou-se sempre, nos últimos anos, muito mais contido no apoio a Kiev que o que propõe Friedrich Merz, cujo exemplo claro de defesa de uma escalada no confronto europeu com Moscovo é a oferta já feita de entrega de centenas de misseis Taurus a KIev que até aqui a Alemanha sempre recusou por temer que sejam vectores de uma escalada perigosa no conflito do leste europeu.

Merz falhou a eleições por apenas seis votos, mas mesmo sendo apenas um punhado de deputados que deram o dito por não dito, o problema é que tal cenário não era de todo esperado, o que levou a AfD, os extremistas de direita, o segundo partido mais votado a 23 de fevereiro, a pedirem já a realização de novas eleições por falta de condições da CDU para Governar.

O líder da CDU, o partido da antiga chanceler Angela Merkel, que apostava numa muito próxima relação económica entre a Rússia e a Alemanha, tinha anunciado um acordo com o SPD para formar Governo, dado isso como certo e seguro, mas acabou por falhar o objectivo, embora as contas prévias lhe dessem a perspectiva de uma vantagem de 12 votos.

Alguns analistas notam já que este desfecho dramático na Alemanha deverá pressionar ainda mais a economia alemã, já a contas com dificuldades severas devido ao efeito de refluxo das sanções à Rússia, que privaram o gigante europeu do gás natural barato da Sibéria, onde assentava uma boa parte da competitividade da sua robusta indústria pesada, química, farmacêutica e, entre outras, automóvel.

E com este cenário em cima da mesa, de um esperado atirar de culpas de um lado para o outro, os mesmos analistas admitem que, mesmo que Merz consiga ultrapassar este momento nunca visto na Alemanha, a sua governação será sempre a prazo e fragilizada.

Outro elemento em perspectiva para as próximas horas é perceber quais os deputados que falharam na palavra dada e porque é que o fizeram, o que dará pano para muitas teorias, inclusive a de uma conspiração pró-russa.