Por entre acusações mútuas de invasão territorial dos seus países, as Forças Armadas da RDC e do Ruanda não admitem ter atravessado a linha respectiva de fronteira, acusando-se, antes, mutuamente de a outra parte o ter feito, justificando os confrontos militares.

As províncias do Kivu Norte e Sul, na RDC, são, pelo menos desde a década de 1990, por causa das suas riquezas naturais (diamantes e coltão), disputadas por guerrilhas com origem nos vizinhos Uganda (a ADF) e do Ruanda (a FDLR), que o Governo de Kinshasa já por diversas vezes acusou de terem o apoio militar oficiosamente dos governos vizinhos.

Desta feita pode estar a acontecer uma escalada militar perigosa porque se trata de escaramuças graves entre as Forças Armadas do Ruanda e da RDC devido à invasão territorial da RDC, acusam as chefias militares das FARDC, enquanto o Governo do Ruanda nega e diz que se trata de manobras de diversão de Kinshasa para aliviar os problemas internos.

Mas como em África já ocorreram conflitos de grande dimensão por causa de pequenas escaramuças como esta, as preocupações da comunidade internacional são evidentes e já surgiam apelos à calma por parte da ONU e da União Africana.

E não é para menos, até porque o próprio Presidente da RDC, Joseph Kabila, tem advertido para o potencial de desestabilização de toda a região dos Grandes Lagos a partir desta incandescente região fronteiriça.

FARDC garantem incursão estrangeira

O general das FARDC, Bruno Mandevu, que comandou a operação militar para expulsar as forças "invasoras", confirmou, em declarações aos jornalistas a incursão ruandesa que "atravessaram claramente" a fronteira, refutando de forma veemente a alusão ruandesa de que foram as FARDC que invadiram território ruandês.

Para já, ambas as partes, para ganhar tempo, ou para evitar uma perigosa escalada do conflito, pediram ao mecanismo de apuramento da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL) para verificarem in loco de que lado da fronteira ocorreram os confrontos.

A CIRGL é actualmente liderada pelo Presidente do Congo-Brazzaville, Dennis Sessou N"Guesso, e que foi comandada nos últimos anos pelo Chefe de Estado angolano, primeiro José Eduardo dos Santos, e depois, por pouco tempo, João Lourenço.

Numa Cimeira da CIRGL realizada em Luanda, José Eduardo dos Santos chegou mesmo a pedir aos países da região para enviarem forças militares para a RDC como forma de ajudar este país a expulsar as guerrilhas com origem estrangeira a actuar no seu território.

Uma das questões mais antigas que é comummente utilizada para admitir o apoio oficial do Exército ruandês à Frente Democrática de Libertação do Ruanda (FDLR), guerrilha criada na década de 1994 depois do massacre de Tutsis, no Ruanda, em 1994, é que este país surge na lista internacional de exportadores de coltão mas não há registo de o ter no seu subsolo, e que, por outro lado, existe em abundância na RDC, especialmente na área onde estes guerrilheiros actuam, espalhando o terror nas comunidades para beneficiarem dos recursos naturais.

Para já, o Governo de Kigali rejeita as acusações e o ministério da Defesa pede que o mecanismo conjunto da CIRGL apure com exactidão as coordenadas geográficas onde os confrontos tiveram lugar.

Manobras de diversão?

Mas o Governo ruandês foi ainda mais longe através de um ministro de Estado, que considera estas alegações como "fake news" (notícias falsas) e acusou a parte congolesa de as criar como forma de gerar "manobras de diversão" por razões internas, referindo-se ao período eleitoral que se avizinha. As eleições presidenciais na RDC estão marcadas para 23 de Dezembro.

"Não é a primeira vez que a RDC procura este tipo de manobras de diversão para fazer esquecer os problemas internos", apontou Olivier Nduhungihere, citado pelas agências, adiantando que se trata de "acções conhecidas que não impressionam ninguém", notando que "as incursões congolesas no Ruanda é que são regulares".

Recorde-se que o Governo de Joseph Kabila, na RDC, tem sido acusado pela oposição interna de ter, nos últimos dois anos, criado vários conflitos internos, como a violência das milícias nos Kasai, que fez milhares de refugiados em Angola, na Lunda Norte, e milhares de mortos e deslocados internos, como forma de ir adiando as eleições que vão determinar a sua saída do poder por não se poder legalmente recandidatar a um terceiro mandato.

Kabila termminou o seu segundo e último mandato possível em Dezembro de 2016 e as eleições foram adiadas para Dezembro de 2017 e, agora, estão remarcadas para 23 de Dezembro próximo.

Um conflito regional surge assim no mapa das possibilidades para justificar artificialmente um eventual novo adiamento das eleições.