Se os EUA gastaram 715 mil milhões de dólares em armamento este ano, a China ficou-se pelos 175 mil milhões e a Rússia quedou-se pelos 66 mil milhões, números que fazem dos EUA, de longe, o vencedor daquilo a que o próprio Donald Trump, uma "louca" corrida às armas.

Para se ter uma referência de grandeza deste tipo de gastos, os 715 mil milhões USD gastos pelos EUA em Defesa equivalem a cerca de três vezes o Produto Interno Bruto (PIB) de um país como Portugal (220 mil milhões USD em 2017) e quase seis vezes o PIB angolano (124 mil milhões USD em 2017).

Face a estes gigantismo dos gastos com os militares, e mesmo depois de ao longo do último ano ter dito publicamente, por várias vezes, que os EUA vão ser os "mais poderosos do mundo", de ter elogiado a capacidade "ofensiva e defensiva" das Forças Armadas norte-americanas, e de ter dito que os EUA nunca mais teriam concorrência à altura da sua capacidade militar, Donald Trump resolver meter um travão naquilo a que chama "loucura".

E escreveu no Twitter, a rede social que usa frequentemente para fazer anúncios das suas políticas, que está "seguro" de que, "algures no futuro", vai reunir com Xi Jinping e Vladimir Putin, para "dar início a conversações" que permitam colocar um travão na "incontrolável corrida às armas" que levou os EUA a gastar este ano 716 mil milhões de dólares. "Crazy!", exclamou no final do seu tweet.

Como recorda hoje a imprensa norte-americana, este volte-face no discurso armamentista de Donald Trump, choca de frente com uma recente decisão sua onde aprova uma lei que abre caminho a um gasto "colossal" em Defesa, que determina o maior aumento de tropas dos EUA em mais de uma década.

As frases que Trump usou nesse momento foram: Este é o mais significativo investimento nas Forças Armadas e nos nossos combatentes da história moderna" dos EUA, ou "vamos ter as melhores Forças Armadas do mundo", que custam, este ano e também no próximo, o correspondente a 17% do Orçamento Federal dos EUA, a maior economia do planeta, e um valor que não se repete em mais nenhum país do mundo.

A par destes elogios, que contrastam com quaisquer intenções de travar a actual corrida às armas, Trump investiu uma boa parte do seu tempo a acusar a China e a Rússia de terem sido eles a lançar esta corrida belicista, embora isso não resista à análise dos factos, porque Pequim e Moscovo juntos ficam muito aquém dos gastos de Washington - 175 e 66 mil milhões USD respectivamente -, e, inclusive, a Rússia tem diminuído a fatia do Orçamento aplicada nesta área.

Mas esta mudança de agulha, pelo menos aparente, na política de Defesa dos EUA, surge quando Trump tinha, há escassos meses, acusado a Rússia de estar a aumentar a corrida ao armamento do seu lado e ameaçou retirar os EUA do tratado sobre redução de armas nucleares que foi assinado durante a Guerra Fria, visando reduzir o número de ogivas activas no mundo, sendo que os EUA e a Rússia possuem 90% de todas as armas nucleares existentes no planeta.

Uma das justificações de Trump para os sucessivos aumentos introduzidos no orçamento da Defesa é a ideia de que Moscovo e Pequim estão apostados em ocupar o espaço de influência que os EUA têm no mundo, procurado erodir a segurança e a prosperidade norte-americanas.

Num documento estratégico aprovado pela sua Administração, Trump sublinha que a China e a Rússia "estão empenhados em tornar as suas economias menos livres e justas para aumentarem as suas capacidades na área da Defesa, para controlarem as suas sociedades, que querem menos livres, expandindo a sua influência" no globo.

De Washington ainda não surgiram quaisquer explicações para esta reviravolta.