George Floyd, com a cabeça pressionada contra o asfalto pelo agente da polícia, que olhava em volta indiferente, soltava como últimas palavras ditas em vida "i Can"t Breathe - Nâo Consigo Respirar", mas, já depois de morto, estas continuaram a ecoar escritas em cartazes e gritadas nas ruas, acabando por ser elevadas a forma global de protesto contra a morte de negros às mãos da polícia.

Com o joelho sobre o seu pescoço, Derek Chauvin, o polícia branco, mandava calar Floyd ao mesmo tempo que o impedia de respirar e tudo estava a ser visto e ouvido nas redes sociais quase em directo e em todo o mundo.

Os protestos, com pilhagens e fogos dispersos, primeiro pela cidade onde tudo aconteceu, e depois por mais de uma dezena de cidades nos Estados Unidos, incluindo Los Angeles, não pararam mesmo depois de o Presidente Donald Trump ter ameaçado varrer os "bandidos" a tiro se não deixassem as ruas e ainda depois de o agente do Departamento de Polícia de Minneapolis, Derek Chauvin, ter sido detido e acusado de homicídio - a moldura penal vai até aos 25 anos de cadeia -, tendo os restantes três policiais, apanhados pelos vídeos impávidos face à vida de Floyd que se esvaia, sido despedidos.

As imagens do joelho de Chauvin a esmagar o pescoço de Floyd contra o asfalto tornaram-se virais nas redes sociais de tal modo que a próprio ONU já veio a público mostrar a sua preocupação porque, apesar de ser "apenas" mais um negro, entre várias dezenas nas últimas duas décadas, morto a tiro por policias brancos nos EUA, a forma como ocorreu, e como o terror do homem a suplicar para que o agente o deixasse respirar comoveu o mundo, obrigou a que houvesse consequências.

O próprio Presidente Trump, depois de ter publicado no Twitter a ameaça de varrer os "thugs - bandidos" a tiro para acabar com os distúrbios, veio depois garantir que não pretende que sejam disparadas balas reais contra aqueles que mostram nas ruas a sua indignação pela morte de Floyd.

George Floyd, como o atestam os vídeos feitos por pessoas, muitas delas quando tentavam ajudá-lo alertando os agentes para a sua iminente morte por não conseguir respirar enquanto Chauvin lhe dizia secamente para estar calado, ou as câmaras de videovigilância nas proximidades, não mostrou quaisquer intenções de estar ou pretender resistir à detenção mas foi tratado como se fosse uma ameaça à vida dos polícias que o detiveram.

Face a este terror em directo, milhares de pessoas saíram à rua, primeiro em Minneapolis, a principal cidade do Minnesota, um estado proeminentemente de população branca, depois em Los Angeles, Detroit... e, a seguir, em dezenas de outras localidades.

Em todos estes locais sobressaem cartazes voltando a lembrar que "A vida dos negros é importante - Black Lives Matter", um movimento internacional surgido no seio das comunidades negras dos EUA e, depois, com vigor redobrado, a frase dispersa em milhares de cartazes "I Can"t Breathe" (não consigo respirar), elevando à forma de protesto global as últimas palavras ditas por George Floyd, sobre quem não existiam quaisquer condenações e era apenas suspeito de ter tentado, com ou sem noção disso, passar uma nota alegadamente falsa de 20 dólares, cerca de 11 mil kwanzas.

Pelo meio, mostrando claro desnorte, e apanhados pelo surpreendente vigor dos protestos que duram já há 4 noites, a polícia de Minneapolis acabou por deter um jornalista da cadeia norte-americana CNN em directo, enquanto o repórter Omar Jimenez perguntava, com milhões de pessoas a assistir, porque é que estava a ser detido se a sua identificação estava visível, bem como a dos elementos da sua equipa.

Este foi o segundo erro, sem comparação em gravidade, cometido ela polícia, porque, horas depois, o governador do estado do Minnesota, Tim Walz, veio a público pedir desculpa aos jornalistas detidos e garantir que estavam a ser apuradas responsabilidades para que o acto não passasse sem consequências.

Algumas das consequências são já evidentes, com a destruição de equipamentos públicos, incluindo uma esquadra da polícia de Minneapolis pelo fogo, a pilhagem de milhares de lojas comerciais em várias cidades, obrigando ainda ao reforço da segurança por militares, cerca de 500, da Guarda Nacional.

Sem dar mostras de pretenderem parar sem garantias de que não volta a acontecer, as forças de segurança criaram vários cordões de segurança e dispararam intensamente granadas de gás lacrimogéneo sobre os manifestantes que gritam "o seu nome é George Floyd" e "Can"t breathe", as palavras de ordem que mais se ouvem por todo o território dos EUA, incluindo já em Nova Iorque e nas proximidades da Casa Branca, em Washington.

Já na sequência destes protestos, pelo menos duas pessoas morreram, uma delas, em Detroit, um jovem de 19 anos, morto pelo disparo de armas de fogo a partir de um carro que investiu contra a multidão e se colocou em fuga de seguida.

Este movimento de protesto só tem comparação com o que se passou em 1991, quando o também Negro Rodney King foi espancado por vários policiais com o vídeo a surgir nas tv"s pouco depois, mas com os protestos a rebentarem como não sucedia desde os idos de 1960, quando em 1992 o tribunal de Los Angeles libertou ou condenou a penas ligeiras os agentes, sendo este um das dezenas de negros abatidos pelas autoridades.

Mas há um desses casos que se destaca, o de Eric Garner, em 2014, em Nova Iorque, um negro, de grande estatura e forte, atirado ao chão por vários agentes da polícia, que se colocaram em cima dele, também no pescoço, enquanto este gritava, pelo menos 10 vezes e durante vários minutos, como os vídeos da altura o mostram, que não conseguia respirar, acabando igualmente por morrer.