O antigo ditador que esteve à frente dos destinos do Zimbabué desde 1980 até 2017, primeiro, até 1987, como primeiro-ministro, e depois como Presidente, viveu envolto em fortes polémicas nos últimos anos de governação e de vida, situação que permanece, desta feita porque o Estado pretende colocar os seus restos mortais num monumento nacional situado próximo de Harare enquanto a sua família exige que seja cumprido o seu desejo, expresso em carta escrita em vida, de ser enterrado na sua terá natal, com a presença de familiares e amigos.

Porém, o ministro dos Negócios Estrangeiros enviou uma carta, citada pelas agências, às embaixadas na capital zimbabueana, explicando que Robert Mugabe seria sepultado num local inserido no Estádio Nacional, com honras de Herói Nacional, embora o documento não especifique as condições ou local exacto onde serão depositados os restos mortais daquele que foi um libertador do povo e um opressor desse mesmo povo.

O Zimbabué, antiga colónia britânica, obteve a independência de Londres em 1965, tendo, no entanto, ficado, como Rodésia, sob um regime dominado, com punho de ferro, pela minoria branca, que foi derrubado por nacionalistas negros, com Mugabe em lugar de destaque, em 1980, após um acordo, passando à denominação actual.

Até final da década de 1990, o Zimbabué viveu um clima de progresso e desenvolvimento invejável no contexto africano, tendo MUgabe mantido relações cordiais com a comunidade branca, que acabou por hostilizar na última década do seu "reinado", coincidindo isso com o descalabro económico que o país atravessa e do qual o novo Presidente, Emmerson Mnangagwa, que foi seu vice-Presidente e companheiro de luta contra o regime anterior, não parece estar a conseguir libertar-se.

Apesar da oposição da família e da sua carta a expressar vontade em ficar sepultado na sua terra, Zvimba, Mugabe vai mesmo ser, no próximo fim-de-semana, enterrado em Harare, com honras de Herói Nacional.

Segundo a imprensa zimbabueana, Mugabe não queria ficar no campo reservado aos heróis nacionais por sentir que tinha sido vilipendiado pelos militares aquando do seu afastamento do poder, em Novembro de 2017.

As cerimónias fúnebres de dois dias terão lugar após a chegada dos seus restos mortais de Singapura.