A última vez que Francisco esteve em África foi em Março último, em Marrocos, e, desta vez, na sua 31ª deslocação apostólica, permanecerá 10 dias num continente dilacerado por múltiplos conflitos, efeitos devastadores da prolongada seca, das alterações climáticas, que, por sua vez, estão na génese dos ciclones que devastaram parte de Moçambique no último ano,a corrupção e a extrema pobreza associada a doenças como a epidemia de Ébola no leste da República Democrática do Congo que ameaça todos os países da Região dos Grandes Lagos e à fome.

A questão ambiental, colocada na agenda por fontes do Vaticano que falaram às agências para emoldurar mais esta visita apostólica de FRancisco, ganhou importância acrescida com a eclosão de centenas de focos de incêndio na Amazónia, para os quais o Papa pediu resposta rápida e adequada no contexto da urgência de proteger a humanidade contra o aquecimento global e a desflorestação a ele associada.

Esta é a segunda vez que Francisco está na África subsaariana e a sua chegada a Moçambique é, neste contexto, uma oportunidade para sublinhar a prioridade papal às questões climáticas devido ao ciclone Idai, que no ano passado varreu aquele país lusófono do Índico, bem como o Malawi e o Zimbabué, todos eles, a par daqueles que estão no mapa desta visita, Madagáscar e Maurícias, vítimas da rápida desflorestação, seja por causa de incêndios - queimadas agrícolas e para produção de carvão -,seja devido à exploração desenfreada de madeiras por parte de interesses internacionais, especialmente chineses, para onde é exportada a maior parte das madeiras com elevado interesse económico.

Mas, atento ao facto de ser a pobreza que abre as portas destes países fragilizados aos interesses abutres de algumas potências asiáticas e europeias, o Papa Francisco tem insistido na urgência de equilibrar a distribuição da riqueza entre os dois lados da humanidade mais distanciados, independente das suas geografias, que são os mais ricos e os mais pobres, começando, desde logo, pela protecção dos recursos naturais destes últimos.

Em afirmações produzidas ciclicamente desde que assumiu o seu papado, Francisco tem feito questão de pedir mais investimento em África gerador de emprego, que permita melhorar efectivamente a vida das populações e não apenas das elites que mandam e, muitas vezes, como o próprio tem expressado, afogadas em corrupção, o combustível mais potente para a desigualdade e pobreza nos países africanos ricos em recursos naturais, deste o petróleo aos diamantes.

Nesta visita, Francisco chega, mais uma vez, a um continente onde o catolicismo está em franco progresso, crescendo, segundo números do próprio Vaticano, mais de 200% entre 1980 e 2015, o que confere um crescente poder de influência à igreja católica e ao Vaticano.