Apesar dos tiros disparados pelas forças de segurança congolesas que procuravam evitar a entrada dos populares, as instalações das forças da ONU estacionadas em Beni foram mesmo parcialmente destruídas com recurso a paus, pedras e archotes.

Esta reacção popular foi motivada por mais um episódio que demonstra o drama que as populações desta região do leste da RDC, que inclui ainda o Kivu Sul e Ituri, com fronteira com países como o Uganda e o Ruanda, vivem há décadas por causa de vários grupos guerrilheiros - os mais importantes são a FDLR, oriunda do Ruanda, e a ADF, com origem no Uganda, ou ainda as milícias de movimentos como o famigerado M23 -, num registo brutal de milhares de mortos.

No Sábado, oito pessoas foram mortas de forma brutal por um destes grupos, na cidade de Beni.

A MONUSCO é uma missão da ONU de interposição, como capacidade militar de reacção, a mais cara e numerosa que as Nações Unidos têm em todo o mundo, e foi erguida com o propósito de servir de apoio activo às Forças Armadas da RDC no combate às guerrilhas que se instalaram nesta área, uma das mais ricas do mundo em recurso naturais, com destaque para os diamantes e o coltão, entre muitos outros.

No entanto, a acção das guerrilhas e das milícias não foi ainda estancada, apesar de estarem activas desde a década de 1990, formadas, quase todas, após o genocídio étnico no vizinho Ruanda onde os Hutus mataram mais de 800 mil Tutsis. Estas foram criadas como grupos de defesa mas acabaram por evoluir para grupos de exploração desenfreada dos recursos no subsolo congolês.

E, para piorar o cenário, esta região é o epicentro de uma das mais violentas epidemeias de Ébola registadas até hoje em África, com mais de 2 mil pessoas mortas desde que foi declarada, a 01 de Agosto do ano passado, sendo ainda as guerrilhas acusadas de ataques letais às equipas médicas que no terreno procuram combater o vírus.

O ataque ao aquartelamento da MONUSCO, que deixou alguns dos edifícios em fogo e pilhados, foi a resposta popular e a forma dos habitantes das aldeias atacadas pelas guerrilhas e milícias dizerem que estão fartos da ineficácia dessa missão, que querem agora ver sair da região devido à sua inoperacionalidade.

Embora, como relatou a imprensa congolesa, não tenha sido reivindicado o ataque contra civis no Sábado, a área do ataque tem sido usada pelos guerrilheiros da Aliança das Forças Democráticas (ADF), oriunda do Uganda para actos de terrorismo e represálias.

Para além da MONUSCO, também o Uganda e o Ruanda, numa iniciativa em que o Presidente angolano, João Lourenço esteve desde o início, acordaram na realização de acções conjuntas que visam o combate a estas guerrilhas. Este acordo foi assinado pelos Presidentes do Uganda e do Ruanda na CImeira de Luanda a 21 de Agosto.