Numa comunicação realizada durante a madrugada de hoje, a CENI declarou Félix Tshisekedi, de 55 anos, "Presidente eleito provisório", com 38,57 por cento dos votos, contra 34,8 por cento de Martin Fayulu, o segundo mais votado, tendo este rejeitado de forma veemente os resultados.

O candidato do regime e delfim do Presidente Joseph Kabila, Ramazani Shadary, ficou-se perlos 23,8 por cento dos votos.

Nas declarações iniciais do presidente da CENI, Corneille Nangaa, feitas depois de uma longa espera, via redes sociais, com ansiedade e inquietação á mistura, e já madrugada dentro, este afirma que Tshisekedi, um dos dois candidatos da oposição considerados favoritos, foi eleito sem dúvidas, embora sublinhando que se trata de resultados provisórios, somando pouco mais de sete milhões de votos até ao momento.

Segundo o calendário eleitoral oficial, os resultados definitivos devem ser anunciados pelo Tribunal Constitucional a 15 de Janeiro e a cerimónia de tomada de posse do novo Chefe de Estado da RDC está agendada para 18 deste mês, embora os adiamentos observados no anúncio dos resultados provisórios possa alterar este calendário.

Nas primeiras declarações de Félix Tshisekedi, este garante que vai ser "o Presidente de todos os congoleses" e nomeou Joseph Kabila como "um parceiro importante na transição de poder na RDC".

Golpe eleitoral, acusa Fayulu

Entretanto, o candidato derrotado, e que tinha surgido a liderar as sondagens antes da votação, Martin Fayulu, apoiado pelos pesos-pesados da política congolesa, Jean-Pierre Bemba e Moise Katumbi, considerou o anúncio da eleição provisória de Tshisekedi um "golpe eleitoral".

Fayulu disse aos jornalistas, na primeira reacção à eleição de Félix Tshisekedi, que rejeita aceitar estes resultados porque não têm qualquer ligação à realidade expressa pelos eleitores nas urnas de voto.

"Estes resultados não têm nada a ver com a verdade da urna de voto", disse, sublinhando ainda que se trata de um "golpe" e que é "totalmente incompreensível", afirmando ainda que "o povo congolês está de novo a ser roubado da sua soberania".

O candidato derrotado deixou ainda no ar a ideia de que esta situação é passível de gerar a desordem generalizada no país.

A imprensa internacional cita diversos apoiantes de Fayulu que afirmam ter sido feito um pacto para a partilha do poder entre Kabila e Tshisekedi.

A Conferência Episcopal Nacional do Congo (CENCO), órgão que reúne os bispos católicos da RDC, lançou, horas antes deste anúncio, um sério aviso à Comissão CENI sobre o risco de anunciar resultados que não respeitem a vontade manifestada nas urnas pelo povo.

O presidente da CENCO, Marcel Utembi, presidente da CENCO, enviou mesmo uma carta à CENI onde diz que "entre as irregularidades que irritam a população, a mais grave, que poderá levar o povo a sublevar-se, seria publicar resultados, mesmo que provisórios, que não sejam conformes à verdade das urnas".

Recorde-se que durante o período de votação, fonte da CENCO, que teve 40 mil observadores a acompanhar a ida às urnas dos 39 milhões de eleitores, citadas sob a condição de anonimato, tinha indicado que Martin Fayuku liderava com larga margem a contagem.

E de lembrar também que a UDPS, ainda na quarta-feira, veio a público, através do seu secretário-geral, anunciar a vitória do seu candidato e lider - que se veio a confirmar - mas com oum complemento que pode ser a porta aberta para todas as confusões, quando Jean-Marc Kabund disse que Félix Tshisekedi estava em conversações com Joseph Kabila para negociarem a transição de poder num contexto de reconciliação nacional.

Isto, quando o próprio Tshisekedi, bem como a restante oposição, fez numerosas acusações pré-eleitorais à CENI de que estava manietada pelo regime de Kabila e que estava a actuar de forma a garantir que os interesses do ainda Presidente da República estariam salvaguardaos.

Félix é filho do antigo lider da UDPS e político histórico na RDC, Etienne Tshisekei, falecido em 2017, em Bruxelas, um dos mais fervorosos rivais de Kabila, com quem manteve uma "guerrilha" política aberta ao longo dos últimos anos, tendo sido quem liderou os milhares de congoleses que entre 2016 e 2017 saíram para as ruas - tendo morrido centenas em confrointos com a polícia - a exigir a saído de Kabila do poder e a realziação de eleições, quer foram adiadas duas vezes e deveriam ter tido lugar em Dezembro de 2016, altura em que Etienne poderia ter sido candidato.

ONU toma nota dos resultados e apela à calma

As Nações Unidas, segundo um comunicado emitido horas depois do anúncio dos resultados provisórios pela CENI, informa que o Secretário-Geral, António Guterres, tomou nota desta informação e apela à calma de todos os partidos políticos e a que estes se abstenham de toda e qualquer manifestação de violência, porque existem mecanismos legais para acomodar os protestos, nomeadamente eventuais recursos constitucionais e recontagens de votos, etc.

Estas eleições são a grande esperança da ONU de ver na RDC as primeiras eleições, desde a sua independência, em 1960, com transição de poder, sem que o país se veja envolvido num banho de sangue.

"O Secretário-Geral apela a todos os partidos que se abstenham de actos de violência e a optarem por regrar os contenciosos eleitorais através de mecanismos institucionais estabelecidos e conformes à Constituição", disse a ONU.

Guterres felicitou ainda o povo congolês e os seus protagonistas políticos pelo desenrolar pacífico das eleições, pedindo a todos os actores políticos e civis para que estejam à altura das suas responsabilidades, prometendo todo o apoio da ONU para o futuro da RDC.