As possíveis razões para tal estado de coisas podem encontrar-se nos mais variados campos.

Pode ser uma questão cultural: uma menor apetência pelo conhecimento profundo das coisas, dando-se, porventura, demasiada importância aos aspectos meramente formais da aprendizagem, o que leva a uma procura desenfreada por títulos que permitam ascensão social (e as correspondentes vantagens económicas), menosprezando-se a entrega aos difíceis caminhos da investigação, que, numa boa parte das vezes, não traz um reconhecimento que seja compatível com os sacrifícios que os que se entregam a esse sacerdócio deveriam ter.

Pode ser uma questão política: pois, apesar de haver nas atribuições ministeriais quem, explicitamente, se deveria encarregar do Ensino Superior, da Ciência e da Tecnologia, e de haver um Decreto (o 2/01 de 19 de Janeiro) que estabelece a carreira de investigador científico, a realidade mostra-nos instituições do ensino superior que, na sua quase generalidade, são pouco mais do que (maus) reprodutores de conhecimento, e institutos de investigação científica com resultados muito aquém do expectável.

Não há, tirando as honrosas excepções que se traduzem pelo número diminuto de artigos científicos publicados, uma percepção de que as instituições que deveriam criar conhecimento estejam a cumprir o seu papel: não apenas entregar sofisticados diplomas, entregues em sofisticadas e dispendiosas cerimónias, mas criar as condições, para que haja investigação científica, o que implica a existência não só das condições materiais para tal, como é o caso dos laboratórios, bibliotecas e intercâmbio com os seus pares (pois hoje, felizmente, o acesso à informação científica, dado o desenvolvimento tecnológico, está muito mais facilitado), mas também de um orçamento que possa suportar directivas que obriguem o seu quadro de pessoal docente (e discente) a dedicar parte do seu tempo à investigação científica.

Ou pode ser uma questão económica: pois a parca indústria que possuímos, assim como os empreendimentos agrícolas, de pescas, e mineiros, não investem em investigação&desenvolvimento, limitando-se a ser meros reprodutores de processos (e produtos) gizados além.

É verdade que temos visto, particularmente ao nível da economia digital, o surgimento de interessantes iniciativas, que se traduzem na explosão de serviços ligados a plataformas que têm facilitado a vida dos cidadãos que a elas podem recorrer. Não sendo ciência, é inovação tecnológica, e deve ser elogiado. Mas é pouco.

Se queremos alterar o estado de coisas, não é certamente com a criação de uma Academia Angolana de Ciências, mas com o interesse genuíno do Estado, definindo políticas e alocando recursos, que permitam, não só criar condições para que o pequeno grupo de investigadores existentes possa fazer o seu trabalho (pois muitas vezes não o fazem por falta do necessário financiamento), como incentivar novos quadros a dedicar-se efectivamente à investigação, transformando-se e transformando as instituições onde trabalham, e aproveitando as oportunidades que surgem para parcerias win-win com outras instituições internacionais.

Quando vemos países como o Malawi e Moçambique com maior produção científica que nós, não nos podemos refugiar na crise para não fazermos mais.