Muito provavelmente por isso e pelo dinheiro da FIFA que andou a distribuir por vários clubes para que façam face às despesas de biossegurança decorrentes da pandemia global da Covid-19 foi eleito presidente da FAF. Contudo, uma providência cautelar interposta por um dos pré-candidatos emperrou todo o processo, e até agora o elenco eleito ainda não tomou posse. Às costas, o presidente eleito da FAF carrega outras "makas" que o impedem, para já, de se candidatar ao Comité Executivo da CAF.
Como manda a lei, não tendo o elenco eleito tomado posse, a lista cessante, que foi a eleita, fica em gestão corrente, sendo o secretário-geral, o experiente Fernando Rui Costa, a ser pau para toda a obra, enquanto o Tribunal Provincial de Luanda decidiu na quarta-feira, 27, sobre o caso, Artur Almeida e Silva e pares não tomarem posse provisoriamente. Ainda assim, a principal competição organizada pela FAF saiu do papel para os campos, a despeito da pandemia que a todos condiciona e da pendenga judicial. Nada ainda foi dito, mas é provável que a Taça de Angola também adentre as quatro linhas.
Com o "Girabola" a caminho de disputar um 1/5 das suas 30 jornadas - restam muitos jogos em atraso, já há pelo menos um clube a estertorar por falta de suporte financeiro. Trata-se do Sporting de Cabinda, que até agora realizou apenas dois desafios, tendo pedido adiamento de outros tantos, por não ter recursos para fazer face à enormidade de despesas com a prova maior do futebol nacional. Não é a primeira vez que os "leões" da província mais a Norte do País drapejam a bandeira da insolvência. Contudo, estes são contos de outros rosários. Provavelmente lá mais para a frente surgirão mais emblemas a clamar por apoios para concluir a compita.
À excepção dos que mamam à farta na teta do OGE, a generalidade dos clubes do "Girabola" entrou para a competição com esperanças de fazer uma prova sem sobressaltos, porque o essencial das despesas seria pago pelo patrocinador arranjado pela suposta diligência empreendida por Artur Almeida e Silva junto da mais alta autoridade da Nação. Em face da promessa, há, inclusive, colectividades cujos dirigentes sequer se deram ao trabalho de bater às portas de amigos e de conhecidos, para esmolar auxílio financeiro, a fim de cobrir as contas decorrentes do campeonato. Pelo menos por uma temporada podem (?) respirar de alívio, por não serem obrigados a trajar vestes de mendigo.
A mendicidade é um traço característico do nosso desporto, no qual alguns clubes vivem da caridade e da boa vontade alheia, uma vez que não geram receitas. Por isso, a bandeira do superpatrocínio desfraldada por Artur Almeida e Silva durante a campanha serviu de lenitivo para muitos, que se sentiram seduzidos pela proposta. Em face disso, aliás, com fundadas razões, agentes do futebol auguravam um campeonato mais competitivo e mais verdadeiro também, porque uma coisa é defrontar um oponente motivado, com salários e todas as despesas pagas e outra bem diferente é bater-se com uma equipa acabada de sair de uma greve, pois os seus jogadores reclamam por meses de salário em atraso. É isso que faz do futebol angolano uma mentira, cujos resultados são bem visíveis na arena internacional, tanto a nível de clubes como de selecções.
Os chamados "grandes" podem até esfregar as mãos de contente, devido às facilidades que encontram na caminhada em busca dos seus objectivos, que são os títulos nas distintas competições do calendário nacional. Mas isso não passa de uma ilusão de óptica, na medida em que, sem uma competição interna suficientemente forte, muito dificilmente conseguem boas prestações fora de portas. Os resultados dos quatro "embaixadores" angolanos nas "Afrotaças" deste ano falam por si. Até com formações da Guiné Equatorial, que há um par de anos eram "bombos de festas", os nossos emblemas já gemem para passar uma eliminatória. Não é, pois, sem razão que Angola figura na lista de países sem nenhum título continental de clubes, passadas quatro décadas desde a primeira participação em 1980!
A estória do superpatrocínio pode ter sido um embuste, uma verdadeira "ratoeira eleitoral", pois até agora nem o Governo, que supostamente terá orientado a patrocinadora a abrir os cordões à bola, nem a própria direcção eleita da FAF se pronunciou sobre o assunto. O que não deixa de ser estranho, na medida em que o Sporting de Cabinda já ameaça levantar a "bandeira branca" e agremiações como o Progresso do Sambizanga, o Santa Rita de Cássia, a Baixa de Kasanji e outros precisam de injecção de dinheiro para se manterem com a cabeça acima da água.
Em face do que está a acontecer com o Sporting de Cabinda e do que pode vir a acontecer com outros emblemas que não vivem à pala do OGE, Artur Almeida e Silva deveria vir a terreiro dirigir uma palavra de conforto aos esperançosos dirigentes desses clubes, que ameaçam sufocar no mar de dificuldades em que foram colocados por um sistema desportivo que escolheu filhos (para sustentar) e enteados (para deixar ao Deus dará). O presidente eleito da FAF tem o dever moral de dizer algo a quem prometeu mitigar o sofrimento. Se não o diz, ou é porque, afinal, fintou todo o mundo apenas para apanhar os votos que lhe permitiriam continuar no trono ou é porque nutre um tremendo desprezo (ou nojo?) pela gente que anda a tentar fazer algo, para que o "Girabola" não se restrinja a meias dúzia de clubes "eleitos" pelo Governo, para que mamem da sua teta.
Não somos entendidos em Direito, mas isso não nos faz estúpidos, até porque a interpretação da lei depende da percepção que cada um tem dos factos em análise, razão pela qual é comum dizer-se que, quando dois economistas debatem, pode haver duas opiniões diferentes, mas, quando acontece o mesmo com dois juristas, pode haver três opiniões diferentes. No caso vertente, é nosso entendimento que, mesmo estando em gestão corrente, a direcção da FAF não só deveria dar uma satisfação sobre o superpatrocínio como também deveria desembolsar as verbas, se é que existem. Do mesmo modo que a gestão corrente pode movimentar dinheiro para, por exemplo, comprar consumíveis de escritório, também pode distribuir o dinheiro que até não é seu, mas dos clubes, dos fazedores da principal competição desportiva do país, o "Girabola".