Pelo relato, apareceram uns emissários com um aliciamento que, por enquanto, continua mais secreto do que a fórmula da alquimia, tendo sido oferecido algo em troca do apoio na revisão constitucional. Quanto? Isso ainda está no ar. Mas pelo modo como houve pronta recusa, só podemos concluir uma de duas coisas: ou o valor era ofensivamente baixo... ou era em kwanzas ao câmbio de 100. Ou então outros motivos éticos e morais. Ainda não há luz no fundo do túnel.
A história ganha contornos dignos de novela, daquelas em que todos suspeitam de todos, mas ninguém revela nomes. A Presidência não perdeu tempo e respondeu com a elegância de quem se sentiu pessoalmente ofendida: é mesmo mentira! Nem sequer foi classificado como fake news! Vamos aguardar a divulgação dos tais mensageiros misteriosos, talvez alguém com um codinome relevante, tipo "trêspaceiro" ou ainda "Sómaiszum".
Do lado da acusação permanece o silêncio críptico típico de um bom enigma de Estado. Estratégia? Suspense? Ou só falta de provas? Ou faz parte da trama hitchcockiana onde convém realçar que os bons patriotas não expõem os vilões logo no primeiro episódio. Mas o que realmente dá sabor à história é a possibilidade de termos testemunhado uma tentativa de corrupção com orçamento limitado. Afinal, que tipo de valor seria necessário para convencer um líder da oposição a apoiar uma mudança constitucional de proporções históricas? Já vimos a mutação agressiva da lista dos pedidos de alembamento pelo que, para efeitos meramente exemplificativos, poder-se-ia elaborar uma lista para responder esta pergunta.
A situação, além de surreal, revela o nosso génio político: transformar suspeitas graves num duelo público de comunicados oficiais e silêncios teatrais. Um acusa, o outro nega, e o povo... o povo vai seguindo, cada vez mais convencido de que política, em Angola, está para o entretenimento como o funge está para a muamba: inseparáveis, picantes e difíceis de digerir.
Enquanto isso, a Constituição - essa senhora cansada que já passou por mais retoques que um passaporte diplomático - continua a resistir às investidas. Para alguns, ela é sagrada. Para outros, é apenas mais um documento à espera de ser ajustado ao gosto do freguês - ou conforme o preço da oferta. O que parece bem mais certo é que um dito "terceiro mandato" está morto à nascença! Não há sequer corrida preparada para essa intenção.