É importante que se perceba que não se trata de gostar ou não de JES, o que se percebe é que os cidadãos estão contra uma tentativa de branqueamento da história, os cidadãos são pró-verdade. O que se vai assistindo no partido é uma morte política dos intelectuais, e um partido sem intelectuais não tem massa crítica. Quanto mais a política partidária for um palco de vaidades, de combate de egos, de intolerância democrática e de radicalismos, de afirmação de interesses de grupos, de ausência de estruturas internas para o debate de ideias, mais difícil é promover a pluralidade. É evidente que o "apagamento" de JES é uma situação que divide o MPLA e indigna os cidadãos, mas JES pode também estar agora a provar do próprio veneno de uma máquina partidária que no passado (com o seu conhecimento e conivência) também tentou apagar Neto. É um MPLA que carrega consigo um histórico de "omissões selectivas", que tem sérias dificuldades em lidar e reconciliar-se com a sua história. Um MPLA onde a história das suas lideranças não é ela própria coerente, sendo que, durante 38 anos, Agostinho Neto foi o seu primeiro Presidente, mas que, no último congresso, passou a ser o terceiro da lista, com a inclusão de Ilídio Machado e de Mário Pinto de Andrade. Um MPLA onde Neto anula Mário, onde José ofusca Neto, e, por fim, João apaga José, numa verdadeira Teoria Geral do Esquecimento (ou do "apagamento", se quiserem).

Dentro desta Teoria Geral do Esquecimento, há a chamada Estratégia da Interferência, em que novas informações e novos protagonistas aparecem, levando a distorcer ou a esquecer os anteriores. A grande questão é como lidar no presente com um passado que faz sombra? Como lidar com tudo isso num país onde ser esquecido é sinónimo de morte? É o medo do "outro" que alimenta o absurdo da negação. Na Angola de hoje, já não existem razões para alimentar equívocos históricos, de se politizar a história ou de se partidarizar a Independência Nacional. Não basta o MPLA demarcar-se da iniciativa de ausência do rosto de JES nos cartazes da independência, não basta tentar corrigir o que está mal, tentando "incluir o excluído" ou "excluir os incluídos". Não! É preciso eliminar uma camuflada e perigosa Teoria Geral do Esquecimento que vai dividindo o MPLA.