A primeira decisão foi estabelecer um conjunto de princípios e valores intrínsecos ao projecto em causa, que, mais do que nos diferenciarem dos demais, visou tomar o alcance de um quadro dinamizador que se ajustasse aos desafios contemporâneos, marcado não só pelos clichés da voz plural e pelo protocolar rigor informativo, mas também pela cristalização de um modelo jornalístico favorável à desconstrução dos muros e/ou fronteiras de vária ordem que ajudaram, ao longo de vários anos, a edificar os inúmeros guetos que se instalaram ao redor de um tão incómodo e angustiante silêncio cúmplice, que chegava a ser mais letal do que qualquer surto epidémico.

Este silêncio, diga-se, para alguns legítimo e para outros abominável, foi muitas vezes responsável por ignorar indicadores estatísticos importantes que apontavam para a derrocada de todo um sistema que a imprensa, pública e/ou privada, tinha necessariamente a obrigação moral de pelo menos lançar o alerta e deixar que quem de direito pudesse fazer o resto. Se houve de facto quem o tivesse feito na nossa profissão não tenhamos dúvidas que sim, porém, a única questão que deixamos em aberto, para que o tempo nos venha a responder um dia com a assertividade que se requer é se o fizemos o suficiente e se o fizemos oportunamente!

Ao pretendermos contrariar um quadro marcadamente adverso aos princípios estruturantes do projecto editorial que pusemos em curso, tal qual um quarteto ou um quinteto, quisemos ensaiar uma forma de outorgar à voz um tom maior, torná-la vibrante, e talvez mais incómoda do que já ela era. Mas todo esse esforço não se deveu eventualmente à falta que dela sentíamos no panorama angolano, porque voz sempre houve, e muitos anteriores ao Novo Jornal a fizeram ouvir.

Contudo, sempre tivemos a clara noção de que, ao iniciarmos este projecto, creditados por estes princípios e valores que assumimos à partida como instrumentos modelares, estaríamos a proceder a um revisionismo da falaciosa "tese angolana" - e aqui com as devidas aspas - segundo a qual uma imprensa livre era aquela que se posicionava em contraponto aos ditames do Poder Político.

Nada mais enganador do isso mesmo, porque, na realidade, uma imprensa livre é precisamente uma extensão abstracta de todos os actores que intervêm na sociedade, estejam eles afectos ao Poder Político, Judicial e/ou Legislativo, à sociedade civil organizada, às elites económicas e ou mesmo políticas, aos grupos de interesses, aos académicos, às centrais sindicais, aos entusiastas do debate público, aos bajuladores - se nos permitirem a dita ironia dos tempos - aos cristãos, ateus e agnósticos.

A actividade jornalística tem a particularidade de ser uma importante plataforma, ruidosa se necessário for, para que cada actor sinta nos passos que der em direcção à materialização do seu fim último um olhar observador que não deve servir para melindrar um servidor público, por exemplo, um procurador da magistratura judicial, nem tão-pouco um representante do povo na cada das leis.

Do jornalismo requer-se, além da observância do primado da lei, um sem-número de iniciativas que se destaquem por serem geradoras de uma dinâmica sociocultural, política e económica inovadora que não só acrescente valor à profissão, mas constitua uma necessária mola impulsora das mudanças que se impõem fazer com bastante urgência no contexto angolano, seja no plano da materialização dos compromissos da governação, seja no plano da afirmação dos direitos e garantias de cada um dos cidadãos.

Os Prémios Personalidades do Ano do Novo Jornal são parte deste compromisso com o país, no interesse de colocarmos em destaque, longe, muito longe das nossas diferenças de opiniões, credos e convicções, valores convertidos em actos e iniciativas promovidas no âmbito da Política, Sociedade, Economia, Cultura e Desporto, que devem ser, sim, aclamados e incentivados, pelo grau de excelência e do mérito de quem as promove ou de quem as realiza.