A abertura política é uma das reformas mais emblemáticas da governação do Presidente João Lourenço. Nessa matéria dificilmente haverá um retorno. Por tal razão, o comportamento da comunicação social pública não pode ir contra a corrente. A manipulação da comunicação social nos últimos tempos da anterior governação contribuiu imenso para o seu descrédito. O desejo expresso pelo Presidente de que a media pública deve defender a boa imagem do Executivo pode ser confundido com um regresso aos tempos da sufocante propaganda. Tenho ouvido muitas reclamações sobre o modo como o Ministério da Comunicação interfere nos órgãos e também que o tempo em que "valia a pena" ouvir a TPA já passou. Não surpreende, pois que nos recentes estudos da Marktest e da MIRA os órgãos da Media Nova tenham suplantado os públicos (com excepção da Rádio Luanda) nas preferências dos inquiridos.

O que se passa com a cobertura do Congresso da UNITA é revelador. Por ocasião dos últimos Congressos (extraordinários) do MPLA questionou-se sobre a possibilidade de a UNITA vir a merecer um tratamento condigno - já que equiparado seria pedir demais -, o que a acontecer, confirmaria, quase definitivamente, a abertura da comunicação social pública. O verificado durante todo o período preparatório do conclave do Galo Negro mostra que os velhos vícios não foram totalmente ultrapassados. Sem ser exuberante, mais uma vez a Zimbo suplantou a TPA. No dia da abertura do Congresso só muito tarde a TPA, possivelmente por "ordens superiores" devido a justas reclamações, se dignou divulgar, de modo mais assertivo, a matéria que nesse dia era claramente a de maior interesse público.

Se a isto se juntar a realização despropositada de actos políticos pretensamente para saudar o dia da independência, bem como o silêncio sobre as eleições autárquicas, é legítimo concluir-se que o MPLA está a revelar inquietação com o protagonismo do seu maior adversário, mas não tem sabido encontrar estratégias para o contrariar. As hesitações na abordagem da corrupção no interior do partido e as dificuldades na implementação de estratégias convincentes para a criação de emprego, para o combate à pobreza e para solução de outros males sociais continuam a provocar imensas dores de cabeça ao partido no poder.

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