Quem a proferiu não o fez de ânimo leve. Quem a proferiu decidiu disparar à queima roupa!

Ostentando a arrogância da "barriga cheia", quem a proferiu se comportava como o pastor que, tendo vergado a manada aos seus pés, dispôs sempre das crias como quis e bem entendeu.

E, espalhando propaganda faiscante, aquela frase encarregou-se de pulverizar quem, rebitando na sociedade civil, ousasse então hastear em voz alta a bandeira das liberdades democráticas.

Ancorada numa cortina de fumaça enganadora, aquela frase acabou por destapar o reducionismo material a que estava confinado o pensamento de um político que, ao longo do seu reinado, afinal, mais não fez senão tentar erguer uma "democracia" sem democratas...

É verdade que a "democracia não enche a barriga", mas é bom não perder de vista que a abastança material de uma parte da sociedade não constitui o alfa e o ómega das aspirações da maioria dos seus cidadãos.

Se assim fosse, não teríamos assistido, no passado, em várias partes do mundo, a imergência de representantes da burguesia a liderarem várias revoluções.

Se assim fosse, os capitães de Abril e outros oficiais do exército português, conhecedores da máquina colonial, não teriam desencadeado a Revolução dos Cravos.

Se assim fosse, muitos dos nacionalistas angolanos oriundos da pequena burguesia não se teriam aliado à causa independentista.

Ao exibir-se de "barriga cheia", quem pretendeu ditar aquela sentença arrotou tanto que, longe de ser um mero adorno propagandístico ou um simples suplemento alimentar da luta de classes, a democracia é hoje o prato principal na ementa dos líderes políticos modernos.

Ao fazer a digestão e a sesta, o arroto do Lubango criou uma sociedade que vivendo num mundo à parte, acabou por não fazer parte de mundo nenhum.

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