"Quem não tem memória, arranja uma de papel"

Gabriel Garcia Márquez (Gabo)

Escritor e Jornalista Colombiano (1927- 2014)

Mas foi um ano da vitória da ciência sobre a tragédia que continua a enterrar milhares de vítimas, com determinação.

No entanto, não tenhamos ilusões. A tragédia global provocada pela pandemia do coronavírus é séria e é um dos maiores desafios já colocados à sobrevivência da espécie humana.

O coronavírus e a sua actual versão (o "corona renovado") expõem a nossa imensa fragilidade. "Num sopro, num respirar imprudente, tudo se desmorona pela força do mais ínfimo ser, um vírus", escreveu o jornalista Ferreira Fernandes.

Ainda antes de 2021 e de um tempo novo, que a humanidade ambiciona, surgiram, sobretudo nos países ricos, onde a Ciência é respeitada e existem pessoas habilitadas e orçamentos convenientes, as primeiras vacinas para a crise que enfrentamos.

Trata-se, inquestionavelmente, de um passo gigantesco, seguramente o primeiro de outros que se seguirão e condicionarão um cenário mais optimista para o futuro da humanidade!

Todos nós somos testemunhas e, frequentemente, actores da exploração insustentável que se vem fazendo do planeta, que torna o nosso futuro comum cada vez mais frágil.

Novas soluções para o regresso a uma existência em harmonia com a Terra são cada vez mais urgentes.

A factura elevadíssima que -todos- estamos a pagar permanece relacionada, nomeadamente, com o mito do crescimento económico interminável, modelos agro-pecuários que incentivam a destruição das florestas, que ainda resistem à fúria de governantes irresponsáveis, e "last but not least" " a falta de respeito pelos animais selvagens, vítimas de captura e comercialização, e a invasão dos seus espaços naturais, favorece a infecção humana por novos vírus ( ou outros micro-organismos patogénicos, que poderão causar mortalidades bem mais altas que a actual pandemia", como destacou, num depoimento de rara lucidez, dias antes de nos deixar, vítima da Covid-19, a brilhante cientista /imunologista e académica portuguesa Maria Ângela Brito de Sousa ( 1939-2020).

Jazz num contexto de incerteza e fragilidade

No actual contexto em que ainda vivemos, a melhor forma de honrar o património de resistência e de luta pela liberdade inscrito na memória genética do Jazz é seguir em frente, remar contra a maré, continuar o seu estudo e divulgação.

Neste trabalho, com o contributo muito importante do "jazz lover" estudioso, Eduardo Dias, destacar-se-á a partida de gente ligada ao Jazz, especialmente os seus principais actores sociais- os músicos- que em 2020 nos deixaram.

Consultámos as principais revistas de Jazz, especialmente europeias e americanas, mas também vasculhámos alguns "sites" dedicados ao Jazz, artigos de jornais, seguimos rádios e televisões que se dedicam ao tema.

Eis as principais conclusões a que chegamos:

Faleceram 88 músicos. Destes, 25 por Covid-19; devido a doenças oncológicas:16; diabetes: 2 e demência:2. Por patologia cardíaca: 9, patologia respiratória: 1. Devido a causas naturais: 16 e outras causas desconhecidas, que não conseguimos aclarar: 17.

Músicos vítimas de Covid-19

E aqui fica a lista lamentável e triste daqueles que nos deixaram em 2020, vítimas da pandemia:

Marcelo Peralta, saxofonista tenor, (1961-2020), Stanley Crouch, jornalista de Jazz e crítico de Arte, (1945- 2020), Ellis Marsalis, pianista, compositor e educador, (1934-2020), Wallace Roney, trompetista, (1960-2020), Mike Longo, pianista, (1937-2020), Manu Dibango, saxofonista alto e tenor, cantor, compositor, John Pizzarelli, guitarrista e cantor, (1926-2020), Lee Konitz, saxofonista alto, (1927-2020), Bobby Cainrs, guitarrista, (1942-2020), Bruce Williamson, cantor, (1971-2020), Henry Grimes, contrabaixista, ( 1927- 2020), Jymie Merrit, contrabaixista, ( 1927-2020), Helen Jones, trombonista, (1923- 2020), Ron Mathewson, contrabaixista, (1948-2020), Giuseppi Logan, multi-instrumentista, (1936-2020), Jacques Pullen, guitarrista, (1957-2020), Robert Barnes, saxofonista tenor, (1938-2020), Troy Sned, cantor[Gospel], (1968-2020), Dulce Nunes, cantora, compositora (1949-2020), Aurus Mabélé, cantor[Afro], 1953-2020, Olle Holmquist, trombonista, (1936-2020), Bill Withers, cantor [Blues], (1938-2020), Onaje Allan Gumbs, pianista, compositor, arranjador, (1949-2020, Bootsie Barnes, sax tenor e chefe de orquestra, (1937-2020), Helen J. Woods, trombonista (1923-2020).

(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)