O papel da Polícia é o de garantir a segurança dos cidadãos. Tratando-se de uma acção que seja em prol do restabelecimento ou manutenção da ordem pública, a presença policial deve garantir aos cidadãos segurança e protecção. Neste exercício de manutenção da ordem, prevenção e repressão de crimes, ela deve observar o primado da lei e respeitar direitos fundamentais dos cidadãos como o direito à vida e à integridade física. Um agente da polícia é submetido a um treinamento específico, tem formação especializada e deve estar preparado para lidar com abordagens menos simpáticas ou até hostis dos cidadãos. Premir o gatilho não deve ser a primeira opção quando confrontados com uma situação de desobediência ou desacato às autoridades. Não se quer uma polícia totalmente desarmada no exercício da manutenção da ordem e da tranquilidade públicas. Não! O que é preciso é que tenhamos uma Polícia Nacional com mentes desarmadas. A violência policial é uma grave ameaça à democracia. A violência praticada por agentes do Estado que detêm o monopólio do uso da força/coacção ameaça substancialmente as estruturas democráticas necessárias ao plano de funcionamento do Estado de Direito.
É preciso também um outro olhar e este olhar é para dentro da própria polícia. Temos uma Polícia Nacional com sérios problemas de meios técnicos e humanos. Temos uma Polícia que trabalha em condições difíceis, que ainda é muito mal remunerada, que trabalha sob pressão e que é obrigada a fazer muito com pouco. Temos uma Polícia de efectivos com excesso de horas de trabalho. Sem esquecer os problemas de progressão na carreira, as lutas de egos e protagonismos entre as chefias, bem como as "guerras" institucionais. Em Angola, a polícia, enquanto objecto das ciências, é um assunto abordado e discutido na comunicação social. A própria polícia ainda é muito conservadora, proteccionista, fechada em si mesma e ainda não lhe agrada ser alvo de discussão, ser objecto de análise ou escrutínio da comunicação social.
Perante isso, a Policia Nacional precisa ela mesma de fazer uma "operação de resgaste". Resgatar a confiança dos cidadãos, resgatar o sentimento de segurança. O medo imposto às populações ao invés do respeito e a lei da bala ao invés do diálogo são sempre feridas abertas na dignidade e integridade das pessoas, e é algo que lhes retira humanidade. A proximidade deve ser um novo paradigma da polícia. A proximidade, mais do que uma política necessária, é um valor intrínseco às polícias urbanas. A gestão do policiamento de proximidade é hoje um dos grandes desafios da polícia. Que se crie aqui um novo paradigma da polícia na abordagem aos cidadãos, que haja também pedagogia na actuação quotidiana, que se crie entre a polícia e os cidadãos uma profícua colaboração e cooperação. Que a sociedade perceba que a vocação/missão das forças policiais não é julgar, condenar ou matar os cidadãos, mas que elas estão aí "to serve and to protect" e ajudar a criar uma sociedade mais segura para todos. Prefiro uma Polícia Nacional que "ofereça" chocolates e rebuçados, mesmo sabendo que engordam e não fazem bem à saúde, a uma Polícia Nacional que "distribua" balas aos cidadãos que jurou defender e proteger. Polícia boa não é polícia que mata.