Cafunfo é um elevador social que está encravado porque avariou de vez. Socialmente regredimos muito e quebrar este ciclo de pobreza vai levar anos. É uma localidade rica em recursos naturais, mas socialmente pobre, onde a exploração de diamantes pouco se reflecte em benefícios às populações. É uma pobreza que vem de gerações e que, pelo "andar da carruagem", ainda se vai perpetuar por mais gerações. Cafunfo é, também, o elevador social que bloqueou, que não sobe e onde a possibilidade de ascender socialmente é quase nula; onde o cidadão tem a absoluta certeza de que, tendo nascido pobre, vai continuar a viver e a morrer pobre.

Cafunfo é também viver num sofrimento ético e psicológico por se saber que se vive numa terra em que se extrai riqueza para todo o País, mas não se tem acesso à educação e ensino de qualidade, habitação condigna, possibilidade de um bom emprego. Onde as diferentes governações têm dificuldades em perceber os anseios, expectativas e ambições das populações. Onde se precisa de dialogar e governar para transformar. Governar para transformar o meio social e cultural e não para o mero populismo ou seguindo uma agenda eleitoral.

Dialogar para transformar e colocar o elevador social a funcionar. A questão económica e social continua a ser um fardo difícil de gerir e há reformas de regionalização, de autonomia local, que não são discutidas e permanecem adiadas. A governação precisa de perceber que mais importante do que dizer aos cidadãos sobre a difícil situação em que se encontram é, sim, importante dizer-lhes como pensa tirá-los do aperto e da situação de pobreza extrema em que vivem.

A intolerância, o egoísmo e o umbiguismo em nada ajudam no desenvolvimento social. É necessário auscultar, é necessário dialogar e criar condições, para que os cidadãos tenham igualdade de oportunidades, para que possam contribuir socialmente para o desenvolvimento do País. É necessário que se sintam úteis para a sociedade e possam viver com dignidade. Dialogar para transformar ajuda a compreender que ser do interior não significa ser inferior e que, mesmo estando na sua própria terra, pode ter-se expectativa melhor.

A qualidade, a profundidade e a maturidade de um discurso fazem toda a diferença e produzem outro resultado. Sobre os acontecimentos de Cafunfo, num período de 24 horas, o País assistiu a discursos completamente diferentes, como se de dia e noite se tratassem. Dois discursos em que o tom e a essência têm uma diferença da água para o vinho: o comandante-geral da Policia Nacional, Paulo de Almeida, com um discurso de "olho por olho, dente por dente", que alimenta ódios e gera indignação em verdadeira contramão ao discurso do ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, que tem pedagogia, sapiência e estabelece pontes. Tudo isso também perante o silêncio do Presidente João Lourenço, cujos dedos no Twitter têm mais agilidade para felicitar actuações artísticas em lives do que mortes de cidadãos nacionais, quer seja em manifestações ou ditas rebeliões. É realmente um silêncio que "faz barulho", difícil de se perceber, porque, nestas situações sensíveis, decide comunicar "por delegação", não pode ter dever de reserva nos momentos em que mais se precisa uma palavra sua. É preciso dialogar para transformar, e a todos os níveis.