- Oh peixe-coragem que foste fazer? - dizia o seu subconsciente.
O homem sem coração e coragem olhou para os últimos segundos de respiração do peixe (estendido, desprotegido). Quanto demorará um peixe fora de água a morrer? (...) Gargalhava. Gargalhava que nem um animal. Gargalhava tanto que da janela da Loandropolê os vizinhos ficaram alertados sem saber o porquê de tanta gargalhada. Encostaram-se curiosos à janela, «a curiosidade não matou o gato mas podia matar o peixe». Gargalhava muito. - Então vizinho, de que tanto ris que nós também queremos gargalhar? - Espreitaram bem na janela. Era o peixe-coragem quase sem Oxigénio, estendido no chão.
- Então, não estão a ver que tenho um peixe corajoso? Vejam! - gargalha sem parar.
Os vizinhos congelaram, zarparam a correr da dita situação. Não queriam fazer parte daquela gargalhada sem graça. Coragem peixe! Armaste-te em corajoso? Só porque não quis lavar o teu aquário.
- Pelo menos não sou Eu o Preguiçoso - falava o peixe todo dorido. Morrerei sem Oxigénio mas sempre corajoso! Nunca sabereis o que é ter coragem - retorquia quase sem saúde. Por fim o peixe ficou sem vida... e morreu estendido no chão. Coragem peixe! Foi tanta tanta coragem que te afogaste no teu próprio oxigénio. gargalhava! gargalhava! Até de madrugada (ainda ouço o som). Os vizinhos já incomodados encostaram-se à janela. - Então, ainda gargalhas do Peixe Coragem, vizinho? E agora quem vai limpar o cadáver e o aquário, visto que o vizinho não tem coragem. E é preguiçoso. Eu, hã? Preguiçoso e sem Coragem? Não vos admito. Já vos mostro, hm... O dono do peixe ficou envergonhado. Os vizinhos zarparam de novo mas desta vez gargalhavam, como eles gargalhavam: - Como é que o peixe tem mais coragem que o dono? - Gargalhavam. Aí é? Acham mesmo que não tenho coragem? Já vos mostro. O dono do peixe armou-se ele próprio em corajoso, arregaçou as mangas e... PUAAAHXX!!!! Atirou-se para o aquário cheio de germes e microorganismos «muitos» e vários (variadíssimos) Diplococos, Stretococcus lactis, Vibrio Cholerae, Estreptococos e Bacilos com Flagelos compridos. Os vizinhos espantadíssimos abanaram a cabeça: coragem vizinho! vizinho! vizinho-coragem!
"Aqui jaz a coragem dos ofendidos e dos que se ofendem, onde o peixe e o dono descansam em paz e cheios de coragem! No céu vigiai, porque não sabeis a que horas há de vir o Senhor. Quem semeia ambições e riqueza, ficará oculto, mas para ser descoberto. «Para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados (Marcos 4 «12»). Os vizinhos espreitaram uma última vez da janela da Loandropolê, ainda se ouvia o gargalhar do dono do peixe, hoje apelidado por toda a redondeza de Corajoso, o dono do peixe Coragem.
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