Garantindo o empenho das autoridades nacionais, João Lourenço admite que fazer voltar a Angola o dinheiro que saiu de forma ilegal "vai ser um trabalho árduo", sublinha ainda que vai recorrer a "acordos judiciários com outros Estados, semelhantes ao que existe com Portugal, país que visita na próxima semana e no contexto da qual surge esta entrevista.

O Chefe de Estado angolano reafirma a solidez desta iniciativa, sublinhando que é um "apertar o cerco" até onde for necessário para que se "descubram os esconderijos do dinheiro de Angola" e, segundo o jornal português, o ex-Presidente José Eduardo dos Santos é desafiado por Lourenço a revelar quem são os corruptos mas lembra que "são conhecidos os que traíram a Pátria".

Nesta entrevista citada pela Lusa, João Lourenço criticou a forma como o seu antecessor no cargo, José Eduardo dos Santos, procedeu na fase de transição do poder, dizendo que não houve uma "verdadeira passagem de pasta", o que o obrigou, nos primeiros meses no Palácio da Cidade Alta, a um trabalho redobrado para se inteirar da real situação do país.

"Esperava uma verdadeira passagem de pasta em que me fosse dado a conhecer os grandes dossiês do país e isso, de facto, não aconteceu", lamentou João Lourenço, que aproveitou ainda para dizer que esse momento de transição foi quando se deu conta da "anormalidade" dos últimos actos do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.

"Estivemos diante de uma anormalidade, com despachos feitos em vésperas da minha investidura, nomeadamente, entre outros, sobre o porto da Barra do Dande, para favorecer quem pretendiam favorecer", disse, numa clara alusão referência à concessão da obra a uma empresa ligada à sua filha, Isabel dos Santos, a Atlantic Ventures.

Sobre o outro filho com um papel preponderante no consulado de José Eduardo dos Santos, Filomeno dos Santos, que está detido por suspeita de colocação de dinheiro do Fundo Soberano, que dirigia à época, no estrangeiro ilegalmente, o Chefe de Estado contextualizou a necessidade de agir de forma célere com a crise económica instalada no país.

Contexto esse que ainda estava, sublinhou ao Expresso, a ser aprofundado com a "tentativa de retirada dos parcos recursos do Estado", referindo-se a "cerca de 1,5 mil milhões de dólares para serem depositados numa conta no exterior de uma empresa de fachada".

"Foi uma jogada de alto risco que, felizmente, graças à colaboração das autoridades britânicas, conseguimos fazer abortar", notou.