O Governo Provincial de Luanda, como o Novo Jornal noticou, proibiu já a manifestação organizada e agendada por jovens activistas do Movimento Revolucionário e do Movimento pela Cidadania, que mantêm a intenção de sair à rua para protestar contra, entre outras reivindicações, o elevado do custo de vida e pedir eleições autárquicas em 2021.

Como o Novo Jornal constatou, em diversos locais da cidade de Luanda, especialmente naqueles que dão acesso aos locais tradicionalmente mais expostos a estes protestos, o 1º de Maio e o Cemitério da Santana, estão já posicionadas viaturas e elementos policiais, sem interferir no dia a dia dos cidadãos mas como instrumento de dissuasão e de vigilância.

O general reformado, Abílio Kalamata Numa, disse ao Novo Jornal que a UNITA ainda não convocou nenhuma manifestação e só sairão às ruas em 2021, em caso da não convocatória e realização das eleições autárquicas nesse ano.

"A UNITA ainda não convocou nenhuma manifestação, mas em relação à realização das eleições autárquicas, do registo de todos eleitores angolanos, a actualização do registo eleitoral, e a actualização da lei eleitoral e outros elementos que possam harmonizar o direito eleitoral em Angola, essa vai ser a batalha dos próximos tempos, e a UNITA vai entrar nisso com muita força", disse o político.

Por outro lado, a segunda-vice-presidente do Grupo Parlamentar da UNITA, Navita Ngolo, referiu que se a UNITA estivesse disposta a apoiar a manifestação já tinha divulgado a sua intenção.

Navita Ngola referiu que os angolanos que enfrentam dificuldades como o elevado custo de vida e o desemprego vão participar na manifestação porque sentem os efeitos desta crise.

O membro do colégio presidencial da CASA-CE, Manuel Fernandes, explicou também que a sua coligação não vai participar na manifestação, embora reconheça que o protesto é um direito consagrado na Constituição.

"Não fomos tidos no momento da organização da referida manifestação, por isso, a direcção da CASA-CE não vai dar indicações aos militantes para fazerem parte da manifestação", acrescentou, esperando que caso haja protesto, a Polícia Nacional e os manifestantes evitem actos de violência.

O secretário-geral do PRS, Rui Malopa Miguel, também anunciou que o seu partido não vai enviar militantes para a manifestação no dia 11 de Novembro.

"O PRS não vai mandar militantes para a manifestação. Qualquer militante deste partido que quer participar no protesto é da sua livre iniciativa", disse Rui Malopa Miguel, embora tenha sublinhado que "o custo de vida e o desemprego é que obrigam a estes protestos".

"O Governo tem que ter políticas claras, caso contrário as manifestações vão continuar", continuou.

A FNLA tem o mesmo ponto de vista das outras formações políticas e exige que o Executivo tome medidas para contornar a actual deterioração do nível de vida no País devido ao custo de vida que aumenta diariamente.

"Sempre chamamos a atenção ao Executivo para encontrar soluções e mitigar a crise. Com a fome e o desemprego, as pessoas vão continuar a reclamar", disse o presidente da FNLA, Lucas Ngonda.

Os organizadores da manifestação dizem que as condições estão criadas para saírem à rua a fim de protestarem pacificamente contra o elevado custo de vida e o desemprego.

"No dia em que no nosso País vai festejar os 45 anos da Independência, vamos sair à rua para protestarmos o elevado custo de vida e o desemprego que assola a juventude", disse ao Novo Jornal o membro da comissão organizador da miniestação Dito Dalí.

O activista aproveitou para acusar jovens alegadamente pertencentes à JMPLA de se terem infiltrado na manifestação do dia 24 de Outubro onde houve distúrbios de forma a responsabilizar os organizadores.

"Todos que vamos participar na manifestação estaremos atentos e mobilizados para que não haja distúrbios à semelhança do que aconteceu no dia 24 de Outubro, quando elementos infiltrados estragaram a nossa manifestação pacífica", acrescentou.

Segundo ele, a manifestação do dia 11 de Novembro "é pela cidadania, pelo fim do elevado custo de vida, desemprego e pela realização das eleições autárquicas".

"Nestas manifestações lamentamos a fraca participação dos partidos políticos da oposição. Os que sofrem são jovens do MPLA, da UNITA, da FNLA, do PRS e da CASA-CE. Estamos a pedir melhoria das condições de vida", acrescentou.

Dito Dalí espera que a Polícia Nacional não frustre novamente a manifestação, porque é um direito constitucional que está a ser cumprido.

"O que aconteceu no dia 24 de Outubro, foi um mau trabalho da Polícia. Houve uma repressão bastante violenta. Não havia razão para os efectivos da Polícia Nacional agirem daquela maneira", frisou, salientando que mesmo com o Governo Provincial de Luanda a ter proibido a manifestação, ela terá lugar.

"Ontem estivemos reunidos com o comando da Polícia Nacional e insistimos que nós vamos fazer uma manifestação pacífica", acrescentou.

A organização não-governamental OMUNGA, entende ser legítima e apoia incondicionalmente a manifestação pacífica e ordeira marcada para o dia 11 de Novembro de 2020, que terá lugar nas diferentes províncias do País.

"É também uma forma que os cidadãos têm de participar activamente no processo de construção democrática que se pretende no país", diz o director Executivo João Malavindele em comunicado emitido por esta ONG angolana.

Dessa forma, os cidadãos não precisam aguardar por anos eleitorais a fim de eleger os governantes, senão também aprimorar os meios de pressão e participação como é o caso das manifestações, referendos públicos, petições públicas, de acordo com os parâmetros estabelecidos constitucionalmente", acrescentou João Malavindele.

Para o director executivo da OMUNGA, "tomando em conta o actual contexto do País assolado por altos índices de desemprego, fome e o elevado custo de vida, o adiamento da esperança de ver resolvidos parte dos problemas com a institucionalização das autarquias, faz com que os cidadãos se revoltem com as políticas de governação do executivo e optem por fazer valer o seu direito e escolham a rua como espaço para fazer ouvir o seu descontentamento e garantir a soberania que reside no povo".

"Encorajamos também a prontidão da Polícia Nacional, que é constituída por cidadãos deste país, a adoptar uma postura prudente e que privilegia o diálogo, com vista a prosseguir os intentos da corporação que é nada mais e nada menos de manter a ordem e protegendo os cidadãos, no caso concreto os manifestantes", diz a finalizar.