Por seu lado, na primeira reacção oficial do Governo angolano sobre esta crise, com os media e as redes sociais da RDC inundados de acusações a Angola por ter cometido "atrocidades" contra os imigrantes ilegais expulsos nas últimas semanas, o Ministério das Relações Exteriores (MIREX) enviou um comunicado às redacções onde garante que foram dadas explicações a Kinshasa sobre a iniciativa que tem como objectivo regularizar a imigração nas províncias diamantíferas, bem como o negócio do garimpo, sublinhando que a "Operação Transparência" não visa exclusivamente cidadãos da RDC.

O ministro dos Negócios Estrangeiros congolês, Léonard She Okitundu, numa conferência de imprensa realizada na quarta-feira, veio colocar água na fervura, embora tenha exigido que Luanda abra um inquérito rigoroso para determinar responsabilidades na violência que foi exercida sobre uma parte dos mais de 260 mil cidadãos da RDC que saíram das zonas diamantíferas angolanas, com destaque para a Lunda Norte e a Lunda Sul.

Sublinhando que o Governo da RDC não vai "cair na ratoeira" de replicar com a "expulsão brutal de angolanos" a viver naquele país, o governante congolês informou que foi emitida uma nota de protesto e indignação pela via diplomática às autoridades angolanas e que o embaixador angolano em Kinshasa só não foi convocado para prestar informações por se encontrar fora do país.

Esta declaração anula a que o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Agée Mutembo, tinha proferido já esta semana, no sentido de a RDC estar a preparar-se para dar um prazo limite aos ilegais no país para partirem.

O pano de fundo para esta crise diplomática de baixa intensidade, por enquanto, entre Kinshasa e Luanda é a denominada "Operação Transparência" despoletada a 25 de Setembro pelas forças da ordem e de segurança angolanas com o objectivo de regularizar a situação migratória nas províncias de fonteira com a RDC e com forte actividade de garimpo de diamantes, que o Governo angolano também quer ver regularizado, com destaque para as Lundas.

Essa operação levou a que mais de 260 mil congoleses tenham saído de Angola, na sua maior parte em direcção à cidade fronteiriça de Kamako, no Kasai congolês, gerando o caos nos serviços de acolhimento do outro lado da fronteira, o que leou a ONU, através do seu Alto-Comissariado para os Refugiados (ACNUR) a lançar um alerta para uma possível crise humanitária em curso.

Segundo as autoridades nacionais, como o sublinhou o comandante-geral da Polícia Nacional, Paulo Almeida, esta operação correu sem a componente de violência que Kinshasa diz ter havido sobre pelo menos 25 mil dos seus cidadãos que abandonaram Angola.

Mas o Governo de Joseph Kabila tem opinião divergente, acusando Angola de ter provocado mesmo perda de vidas humanas e que as suas forças de segurança exerceram violência sobre os migrantes ilegais "expulsos", dando ainda nota de que Luanda não respeitou os acordos internacionais existentes sobre esta matéria.

Kinshasa acusa ainda Luanda que ter ignorado o princípio a que estão obrigados os países que optam por estas expulsões em massa de aviso prévio ao país de origem ou de acolhimento de forma a permitir a preparação de condições para uma recepção minimamente digna.

MIREX informa embaixador da RDC

Entretanto, o MIREX, numa nota enviada aos órgãos de comunicação social, recebida ontem ao final da tarde pelo NJOnline, que já tinha pedido um comentário sobre esta crise há dias, garante que foram prestadas as informações todas ao embaixador da RDC em Luanda pelo ministro em Exercício das Relações Exteriores, Domingos Custódio Vieira Lopes.

O embaixador congolês, Didier Kazadi Nyembwa, segundo esta nota, foi convocado para ser informado sobre os contornos da "Operação Transparência", que tem como objectivo "combater ao garimpo e imigração ilegal".

Nessa conversa, o diplomata congolês ouviu esclarecimentos sobre a operação em curso, tendo-lhe sido garantido, aponta o MIREX, que "a aludida operação não visa exclusivamente cidadãos da República Democrática do Congo, mas todos os cidadão em situação migratória ilegal e que praticam o garimpo nas províncias de Malanje, Bié, Moxico, Zaire, Lundas Sul e Norte", tendo envolvido igualmente cidadãos angolanos que se dedicavam ao garimpo ilegal.

Domingos Vieira Lopes e o secretário de Estado do Interior, Bamukina Zau, que esteve presente neste encontro, explicaram ainda ao embaixador da RDC que algumas informações e vídeos que estão a correr nas redes sociais sobre alegada violência exercida sobre cidadãos do Congo-Democrático não passa de uma "campanha enganosa e de má fé", para "minar as boas relações existentes entre a República de Angola e a República Democrática do Congo".

O embaixador congolês repetiu as palavras do seu ministro dos Negócios Estrangeiros contendo as garantais de que não haverá retaliações contra os angolanos a residir na RDC e que as relações bilaterais permanecem "saudáveis".