Esta declaração de João Lourenço, que foi transmitido em directo pela TPA, foi ainda complementada com a ideia de que a "forma normal" como Joseph Kabila se lhe referiu para descrever o processo eleitoral em curso na República Democrática do Congo é uma "boa nova".

A possibilidade de João Lourenço ter ouvido de Kabila a garantia de que não se candidatará a um 3º mandato, como a Constitui9ção da RDC impede é ainda reforçada pelo facto de o Chefe de Estado angolano ter dito recentemente, numa entrevista em França ao canal Euronews, que Joseph Kabila não deve tentar forçar uma candidatura, como se comprometeu no acordo de São Silvestre assinado em finais de 2016, para garantir a estabilidade e a paz no país com o qual Angola partilha uma fronteira de 2 500 quilómetros.

Logo a seguir, nos jardins da Cidade Alta, Joseph Kabila tomou a palavra para uma curta declaração, onde não se referiu ao processo eleitoral na RDC, apesar de a questão da sua candidatura ou não ser um tema central no debate político em Kinshasa.

Recorde-se que o primeiro-ministro congolês, Bruno Tshibala, tinha afirmado em Junho, quando esta questão estava em foco, que Joseph Kabila aproveitaria a próxima visita a Angola para esclarecer junto de João Lourenço a sua decisão sobre a tão propalada 3ª candidatura, que, sublinhe-se, a Constituição impede por limitar a dois os mandatos sucessivos possíveis mas que forças políticas próximas do Chefe de Estado dizem mesmo estar em curso.

Kabila está há cerca de dois anos no poder para além do tempo limite do seu segundo mandato, que terminou em Dezembro de 2016, tendo, com o referido acordo de São Silvestre, assinado com intermediação dos bispos católicos, permitido o fim de um longo período de violência que fez mais de 200 mortos.

Nesse acordo, as eleições foram remarcadas para 2017, tendo, depois sido novamente adiadas para Dezembro de 2018, etsando oficialmente marcadas para 23 de Dezembro próximo.

Recorde-se igualmente que o prazo para a apresentação oficial das candidaturas termina dentro de seis dias e nem o partido de Kabila, o PPRD, nem a coligação Maioria Presidencial que o elegeu, apresentaram qualquer candidato à sua substituição, existindo apenas uma campanha, incluindo cartazes de grandes dimensões, a garantir que Joseph Kabila é o seu único candidato possível.

Agenda oficial

A agenda oficial para esta visita de Joseph Kabila a Luanda, a convite de João Lourenço, tem como ponto oficial da agenda o reforço das relações entre os dois países, que, como lembrou o Presidente angolano, "estão condenados a dar-se bem" por partilharem uma extensa fronteira de mais de 2 500 quilómetros.

Sublinhou os laços que unem a RDC e Angola, com as culturais e económicas, apontando como caminho o reforço desses laços, potenciando negócios entre as duas populações ao longo da fronteira, mas também entre empresas da RDC e de Angola e mesmo entre os dois Estados.

Por seu lado, Joseph, centrando-se apenas nas questões em agenda, lembrou, sublinhando as palavras de João Lourenço, que os dois países vivem "relações muito boas" mas que esta visita pretende reforçar ainda mais essas boas relações.

O Presidente congolês apontou como exemplo da importância desse reforço a relativamente recente abertura do caminho-de-ferro de Benguela, que liga o Porto do Lobito à fronteira com

"Os dois países demonstram a todos que temos uma boa relação mas também que temos um longo caminho a fazer para o bem das nossas populações", concluiu Kabila.

Enquanto os dois Chefes de Estado estiveram reunidos no Palácio Presidencial da Cidade Alta, equipas ministeriais dos dois países estiveram igualmente numa reunião de trabalho dedicada à agenda de cooperação bilateral.

Durante os dois dias que Kabila vai estar em Launda, deixa a capital angolana à hora de almoço de sexta-feira, está ainda prevista uma visita à SONILS, acompanhado pelo ministro angolano dos Transportes, Ricardo D"Abreu.

Angola e a RDC integram as organizações regionais de desenvolvimento da África Austral (SADC) e da África Central (CEEAC) e ainda a Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL).

Actualmente, João Lourenço preside ao decisivo Órgão de Cooperação Política, Defesa e Segurança (OCPDS) da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).