De acordo com os media estatais angolanos, que receberam a nota da Presidência a descrever esta conversa entre os Chefes de Estado de Angola e de França, João Lourenço reafirmou ao seu homólogo a vontade de Angola integrar a iniciativa do G20 no sentido de aliviar o peso da dívida dos países africanos, que conta em Macron um dos principais impulsionadores.

Para além deste tema, que já era conhecido o interesse angolano desde Março, quando Luanda se juntou a um grupo alargado de Estados africanos que apelaram a esse esforço, nomeadamente na suspensão dos juros das dívidas, entre outras medidas que permitam, no contexto da pressão da dívida, aliviar os Governos já de si forçados a esforços suplementares com o combate à pandemia da Covid-19, um velho conflito fronteiriço entre dois vizinhos de Angola também esteve em foco.

Os dois Presidentes trocaram conversaram sobre questões de natureza regional, como os conflitos existentes no continente, com destaque para uma quezília fronteiriça entre a Zâmbia e a RDC, desejando mutuamente que os esforços de Denis Sassou Nguesso, o Presidente da República do Congo-Brazzaville, como mediador, tenham sucesso, de forma a evitar uma escalada de tensão entre estes dois vizinhos próximos de Angola em geografia e relações históricas.

O problema entre estes dois países surgiu de forma mais intensa em Maio deste ano, na região de Moba, tendo as Forças Armadas de ambos os lados da fronteira entrado em escaramuças.

As Nações Unidas, através do seu Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários, (UNOCHA) tornou público que ocorreram deslocações de populações na área dos confrontos.

E desde Outubro que a situação estava bastante calma, altura em que ocorreu um encontro no âmbito das autoridades locais em torno do Lago Tanganica para normalização da situação na fronteira, que tem décadas.

Desde a década de 1980 que os dois países mostram fortes desentendimentos por causa da linha de fronteira de mais de 1.500 quilómetros que partilham, tendo, nessa altura, ficado o Zimbabué, por determinação da SADC, com a responsabilidade de monitorizar e garantir a segurança na área.

Em 1989 foi assinado um acordo entre os Presidentes da Zâmbia, Kenneth Kaunda e do então Zaire (actual RDC), Mobutu Sese Seko, que se debruçou sobre a questão dos marcos de fronteira.

Em causa estão as marcações territoriais numa área que é mundialmente conhecida por ser rica em recursos naturais diversos, com destaque para o cobalto e o cobre, denominada "Cintura de Cobre" ou "Copperbelt" em inglês, que fornece à Zâmbia a sua principal fonte de rendimentos, e o mesmo sucede com a província congolesa do grande Katanga, e que agora se sabe que também cobre uma vasta área de território angolano.

Segundo as regras impostas pela União Africana, as fronteiras coloniais permanecem activas e em vigor, excepto se as partes concordarem na sua alteração sem confrontos.

Se este problema não for estancado antes de crescer em violência, Angola será um dos países a sofrer impactos colaterais porque existe o risco de refugiados procurarem segurança no país, embora a principal questão seja a incontornável e dispendiosa participação das forças angolanas numa eventual força de manutenção de paz, no âmbito da SADC e da União Africana.