No seu livro Comunicação e Controle Social, Pedrinho Guareschi, psicólogo e professor brasileiro, afirma que a comunicação constrói a realidade continuamente.
Para o autor, uma coisa existe ou deixa de existir à medida que é comunicada e veiculada.
Aqui está o poder da comunicação: ao mesmo tempo em que cria realidades, ela pode silenciá-las. Para o autor, quem tem o comando desse processo detém o poder sobre a difusão de ideias e sobre a criação de opinião pública.
É nesta perspectiva que, em alusão ao 25 de Maio, Dia do Continente Africano (anteriormente denominado Dia da Libertação de África), o Novo Jornal (NJ) traz, em debate, "África e a comunicação social angolana", com foco nos programas de rádio e televisão dedicados ao continente. Como África é abordada na rádio e televisão angolanas?
Qual é o espaço que África ocupa na comunicação social angolana? Os programas produzidos em Angola desmistificam a visão do senso comum em relação ao continente africano, os seus países e culturas?
A proposta deste dossier é, também, de analisar até que ponto os programas de rádio e televisão ajudam a quebrar estereótipos e a desmistificar o senso comum de que África é um continente em constante degradação - devastado pela fome e diversas doenças -, quando, porém, é, inclusive, rica culturalmente e tem a marca de ser o berço da civilização humana.
No leque de programas produzidos no país, que retratam os principais acontecimentos políticos, sociais, económicos e culturais do continente berço, encontramos o África Magazine, criado, há 18 anos, pelo jornalista Amílcar Xavier, emitido pela Rádio Nacional de Angola (RNA), aos sábados, das 07h:30 às 9h:30, com reposição aos domingos, a partir das 18h.
A sua primeira edição foi para o ar a 19 de Maio de 2002, data em que se celebrava o 9.º aniversário do reconhecimento do Estado angolano pela Administração do Presidente democrata Bill Clinton (19 de Maio de 1993). Estavam decorridos oito meses após as primeiras eleições em Angola, quando a Casa Branca reconheceu o governo do MPLA, liderado, na altura, por José Eduardo dos Santos.
Em conversa com o NJ, Amílcar Xavier lembra que o programa, inicialmente emitido aos domingos, nasceu da necessidade de se colocar na grelha da RNA um espaço de informação que abordasse, semanalmente, a actualidade de África.
"Apresentei a ideia ao então director-geral da RNA, Manuel Rabelais, e aceitou- a. A Rádio passava, assim, a contar com um espaço personalizado e com todos os géneros jornalísticos, incluindo a opinião", fez saber.
Vale lembrar que, antes do África Magazine, havia outros espaços de rádio que veiculavam notícias sobre o continente. É o caso do Reencontrar África, emitido entre 1977 e 1992 pela RNA, que era conduzido por Luísa Fançony. Para além do África Magazine, actualmente apresentado pelo jornalista Manuel Luciano, a RNA produz o Cantares de África, programa de música africana emitido aos sábados, das 12 às 13h, e conduzido pelo jornalista Sebastião Lino. No programa Manhã Informativa, principal magazine de informação da RNA, há uma página diária com actualidade africana. No programa Rádio Jornal e no canal internacional da RNA [na frequência 101.4 FM], há rubricas especiais dedicadas ao continente africano.
O director da RNA, Adalberto Lourenço, reconhece serem precisos mais espaços.
Dentro de três meses, segundo o responsável, haverá uma nova página na internet, que será um instrumento importante para a divulgação de informações para África e sobre África.
"Fazendo uma analogia, se a RNA fosse um país, África seria um parceiro estratégico em termos de comparação. Nos nossos conteúdos internacionais, ela tem primazia sobre todos os outros continentes", frisou.
A nível da radiodifusão, destaca-se, igualmente, o programa Raízes, da FM Stéreo (na frequência 96.5), espaço radiofónico de divulgação da música africana, cujo mentor é o jornalista Ismael Mateus. É emitido aos sábados, às 20h, com repetição aos domingos, às 13.
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