A informação foi avançada no Facebook pelos companheiros do jovem de 26 anos, natural do Uíge, que indicam igualmente que "o funeral acontecerá oportunamente numa data e hora a indicar pela família".

Os jovens pedem ajuda em nome da família para a organização do funeral, disponibilizando os contactos telefónicos (925 670 010/ 923 573 961/ 998 146 101) a quem queira ajudar com bens alimentares, e o NIB da irmã de Inocêncio de Matos, Paula Alberto de Matos, para quem queira fazer donativos em dinheiro (AO06 00510 000 5143 8054 101 41).

Os activistas que publicaram a mensagem no Facebook revelam que tiveram acesso ao relatório médico que confirmava a morte de Inocêncio no dia 11 de Novembro às 16:30, no Hospital Américo Boa Vida, por agressão física com objecto não especificado.

O jovem estudante do 3° ano no curso de engenharia informática pela Universidade Agostinho Neto faleceu no Hospital Américo Boavida, em Luanda, onde deu entrada depois de ter sofrido graves ferimentos durante confrontos com a polícia na manifestação de 11 de Novembro.

O jovem, que tinha sido dado como morto no próprio dia da manifestação, como vários media noticiaram, incluindo o Novo Jornal, tendo o seu falecimento sido desmentido tanto pela polícia como pelos seus amigos nas redes sociais, acabou, efectivamente por perder a vida depois de ter sido submetido a uma cirurgia.

O médico Augusto Manuel, que assistiu o jovem, confirmou, em declarações à TPA, que Inocêncio de Matos, 26 anos, estudante universitário, acabou por perder a vida devido aos ferimentos na cabeça provocados por um objecto contundente que lhe provocou um trauma na cabeça, "com sangramento activo e exposição da massa cerebral".

"Chegámos à conclusão que se tratava de uma fractura exposta, com afundamento dos ossos do crânio, em que havia, para além do sangramento, por lesão vascular, a saída da massa encefálica", explicou.

O clínico informou também que o jovem, que deu entrada com um mau prognóstico, acabou por falecer por paragem cardiorrespiratória irreversível.

Augusto Manuel contrariou a versão de o jovem manifestante ter sido atingido por um disparo de arma de fogo, como inicialmente foi avançado por companheiros manifestantes.

"Não, um objecto contundente. Estamos a falar provavelmente de um pau, de um pedaço de metal, grosso, grande, um ferro, que causa aquele tipo de lesão, a gente isso pôde facilmente constatar pelo tipo de ferida que tinha, aquele tipo de fractura, além de que foi submetido a uma TAC crânio-encefálica que não evidenciou corpo estranho nenhum", esclareceu.

Recorde-se que esta morte foi dada como confirmada por diversos media angolanos e estrangeiros na quarta-feira, incluindo o Novo Jornal, tendo o seu desmentido, na quinta, sido fortemente criticado nas redes sociais por muitos dos jovens que estiveram na manifestação e que garantiam que os ferimentos tinham sido, afinal, fatais e a morte ocorrera no local e não no hospital.

Estes dados são difíceis de confirmar porque a versão das autoridades a isso deu azo e as versões contraditórias rapidamente surgiram, sendo que o comandante provincial de Luanda da Polícia Nacional tinha, ainda na noite de quarta-feira, negado a existência de quaisquer mortes durante o processo de dissolução da manifestação por parte das forças de segurança.

A polícia reprimiu fortemente a manifestação de 11 de Novembro, dia em que se celebraram os 45 anos de independência em Angola. Os protestos tinham sido proibidos pelo Governo Provincial de Luanda, que alegava incumprimento de horários, falta de moradas de alguns organizadores e incumprimento das medidas vigentes no decreto presidencial sobre a situação de calamidade pública, devido à covid-19, que impedem ajuntamentos de mais de cinco pessoas na via pública.