Uma bola de fogo (na foto), havendo mesmo quem fale em três, a atravessar os céus ao crepúsculo, cerca das 18:30 locais, na América do Sul, é garantia da mais simples boataria - será um OVNI?, um meteorito? Ou mesmo um avião em queda?

Não, nenhuma dessas possibilidades. A razão está mesmo no lançamento do primeiro satélite angolano, o Angosat-1, que foi para órbita no dia 26 de Dezembro, mas não se trata de mais um problema técnico no aparelho.

Eram partes do foguetão, depósitos de combustível, que transportou o satélite que estavam a voltar à terra e o atrito provocado na atmosfera é responsável pela incandescência.

Mas isso não devia ser do conhecimento dos milhares de habitantes que observaram o voo daquela bola de fogo que atravessava regiões isoladas como Pucallpa, no Peru, ou as povoações dispersas pelo Estado do Acre, no Brasil, muitas delas imbuídas de um misticismo que afasta a origem do fenómeno da tecnologia espacial e o coloca mais na órbita dos fenómenos metafísicos, das inexplicáveis coisas do além...

Tudo bem mais simples, como se soube horas depois de as redes sociais e os jornais online sul-americanos, e não só, terem passado relatos, uns mais espalhafatosos que outros, sobre o rasto de fogo nos céus de fim de tarde daquela imensa região: eram depósitos do foguete russo que transportou o satélite angolano para o espaço, o Zenit-3SLBF, que partiu do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, a 26 de Dezembro.

Em suma, como explicaram depois astrónomos que comentaram o fenómeno, eram restos do foguetão da indústria aeroespacial russa que há um mês tinha levado o Angosat-1 para órbita terrestre (na segunda foto).

Os cientistas chegaram a essa conclusão pela análise das fotografias e vídeos amadores feitos aquando da passagem dos restos do foguetão russo que ficaram incandescentes devido ao atrito provocado pela sua reentrada na atmosfera terrestre.

E nada de anormal ocorreu... é mesmo normal e expectável o que sucedeu, apenas terá falhado a comunicação da RSC Energia aos países onde se prevê que ocorra a reentrada deste tipo de lixo espacial para não só prevenir eventuais danos em terra mas essencialmente para evitar quaisquer especulações.

No entanto, segundo relatos de especialistas, nem tudo terá corrido 100 por cento bem, porque este tipo de material, que se solta do corpo do foguetão aquando da colocação do satélite na sua posição em órbita, deve, se tudo suceder como planeado, queimar-se totalmente com o atrito provocado na reentrada na atmosfera terrestre.

Quanto ao Angosat-1

Depois das primeiras notícias sobre os problemas no satélite angolano, que ficou sem ligação, aparentemente por problemas no sistema de recarga das baterias, e de a construtora russa, a RSC Energia, ter divulgado que os dados da telemetria estavam normais e as comunicações com o aparelho tinham sido retomadas a 28 desse mesmo mês, o Angosat-1 deverá, apesar de alguns contratempos, retomar o contacto normal com as estações de controlo em terra dentro de dias.

Entretanto, também o Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (NORAD) já tornou público que os dados que recolheu, como o faz normalmente com todos os objectos de origem terrestre no espaço, está em órbita e com trajectória normal e conforme o esperado, embora isso não retire espaço para a existência de eventuais problemas de comunicação com o objecto.