A audição do antigo homem forte do BNA é aguardada com expectativa depois de já terem sido ouvidos José Filomeno dos Santos "Zenu", antigo presidente do Fundo Soberano de Angola (FDSEA), que disse na quarta-feira no tribunal que só está a ser julgado neste processo por ser filho do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, "pois não fez nada de anormal para estar sentado no banco dos réus", depois de ter confirmado, também em sede de julgamento, na manhã de terça-feira, ter sido ele a entregar ao seu pai a carta com a proposta de financiamento para um fundo de garantia ao Estado angolano, a pedido do seu amigo Jorge Gaudens Sebastião, tendo recebido autorização por parte do ex-Presidente da República José Eduardo dos Santos (JES), para participar, enquanto responsável pelo Fundo Soberano de Angola, nas reuniões que se seguiram.

António Samalia Bule Manuel, ex- director de Reservas do BNA, foi outro dos réus ouvidos em tribunal, afirmando que Valter Filipe tinha competência, nos termos da política de investimento que estava em vigor à data dos factos, de transferir até 500 milhões USD, contrariando a tese do Ministério Público (MP), que defendeu, no arranque do julgamento, que o antigo responsável do banco central, Valter Filipe, não tinha competências para autorizar a transferência de 500 milhões USD, e que essa competência era do Conselho de Administração do BNA.

Samalia Bule Manuel revelou igualmente que o na altura governador do banco central não submeteu os contratos a advogados internacionais antes de fazer a transferência, que seguiu sem qualquer garantia.

Antes de 'Zenu' dos Santos e de António Samalia Bule Manuel foi ouvido o empresário Jorge Gaudens, que disse ao tribunal que a transferência de 500 milhões USD do BNA para o Crédit Suisse de Londres (Reino Unido) serviria de garantia para o sindicato de bancos estrangeiros financiar um pretenso fundo de investimento a Angola de 30 mil milhões de euros.

A última sessão do julgamento ficou marcada pela entrada de um requerimento do advogado de defesa de José Filomeno dos Santos, que pede ao tribunal que avalie os termos do contrato assinado entre o Banco Nacional de Angola e o consórcio Mais Financial Services& Resource Partnership, de Jorge Gaudens e Hugo Onderwater, que, num dos seus pontos refere que as partes, em caso de litígio, têm de se juntar e nomear um tribunal de arbitragem, em Londres.

Recorde-se que o antigo presidente do Fundo Soberano, José Filomeno dos Santos, e o ex-governador do Banco Nacional de Angola, Valter Filipe, estão acusados de branqueamento de capitais e peculato, no âmbito do conhecido caso dos 500 milhões USD transferidos ilegalmente do BNA para o estrangeiro.

A José Filomeno dos Santos e a Valter Filipe juntam-se ainda, na condição de arguidos, Jorge Gaudens e António Samalia Bule.

Zenu aparece neste julgamento pronunciado pelos crimes de peculato e branqueamento de capitais no seguimento da transferência dos 500 milhões USD para um banco em Londres, Reino Unidos, em Setembro de 2017, cuja finalidade era criar um fundo estratégico de 35 mil milhões USD que deveria viabilizar projectos estruturantes para a economia nacional, entre outras valias, nomeadamente a disponibilização de uma quantia avultada em moeda estrangeira - cerca de 300 milhões USD por semana - para responder às necessidades cambiais do País.

José Filomeno dos Santos, Jean-Claude Bastos de Morais, presidente da Quantum Global, uma empresa suíça que estava a gerir com 'Zenu' o FDSEA, e Valter Filipe, estiveram cerca de um ano, até Março deste ano, em prisão preventiva.

O empresário Bastos de Morais, com dupla nacionalidade, suíça e angolana, após ter chegado a acordo com o FDSEA, deixou o país, logo após ter sido libertado, porque esse mesmo acordo consubstanciava a retirada de todas as queixas em tribunal contra si.