Ao longo do ano 2020, o gás metano, um dos mais prejudiciais gases com efeito de estufa, emitido para a atmosfera devido à produção de gás natural e petróleo caiu acima de 10 por cento, revela um recente relatório da AIE.

O documento desta agência, considerada pelos especialistas como a que detém os dados mais sólidos sobre o universo da extracção de crude e gás, revela que esta importante diminuição da projecção de metano para a atmosfera é resultado do decréscimo da produção pelo impacto da pandemia no consumo global e não devido a quaisquer medidas de contenção na produção de gases poluentes ou da melhoria dos sistemas de filtragem.

O metano é ainda mais perigoso que o dióxido de carbono, pelo menos 20 vezxes mais, na geração de efeito de estufa que leva ao crescimento da temperatura do planeta, responsável pelas prolongadas secas, como aquela que nos últimos anos afecta a África Austral, gerando sérios problemas no sul de Angola.

Para além da indústria petrolífera, este gás é expelido para a atmosfera ainda devido ao aquecimento global que provoca o descongelamento de gigantescas áreas da tundra siberiana e noutras regiões do extremo norte do planeta onde se foi armazenando ao longo de milhões de anos e começa agora a libertar-se em grandes quantidades.

Devido à sua fraca densidade, este gás é dos mais difíceis de controlar ao longo do processo industrial petrolífero porque, entre outras particularidades, consegue libertar-se, inclusive, dos oleodutos e gasodutos que em todo o mundo transportam petróleo e gás ao longo de milhares de quilómetros.

De acordo com este documento da AIE, citado pelas agências, em 2020 toda a indústria do petróleo e do gás emitiu para a atmosfera 70 milhões de toneladas de metano, menos 10% que em 2019, deixando este organismo internacional a informação de que este bom resultado não se deve a quaisquer medidas de controlo suplementares introduzidas pelas companhias do sector mas apenas da redução da produção devido aos efeitos pandémicos.

Daí resulta a quase certa recuperação dos anteriores níveis de emissão deste gás em toda a indústria assim que a produção regressar aos níveis de 2019, o que está dependente do sucesso no combate global à pandemia, nomeadamente através das massivas campanhas de vacinação que já estão em curso.

Recorde-se que, por exemplo, devido à menor emissão de gases poluentes, especialmente o dióxido de carbono resultante das centrais a carvão, da indústria e dos veículos automóveis, na China, nos primeiros meses de 2020, quando a pandemia levou a um drástico confinamento de centenas de milhões de pessoas, o número de mortes provocadas por doenças respiratórias diminuiu mais de 80%, o que significou uma redução da mortalidade média anual substancialmente superior à provocada pela Covid-19 naquele país.

Mas o metano é um gás ainda mais perigoso e letal, e, sendo incolor e não emitir cheiro, faz dele um inimigo letal e silencioso, que tem como principais fontes emissoras para a atmosfera as geradas pela actividade humana, desde logo à cabeça a indústria petrolífera, mas também o degelo nas regiões pantanosas frias, da tundra, dos vulcões, ou ainda da digestão dos bovinos, queimadas, queima de resíduos orgânicos, etc.

Recorde-se que a indústria petrolífera, quando passar o efeito supressor na produção da pandemia, tem pela frente o desafio gigantesco de cumprir com as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris, com uma redução gigantesca das emissões poluentes, ou ainda a "ameaça" da lenta mas inexorável caminhada tecnológica para a sua substituição enquanto fonte energética pelas energias limpas, não poluidoras, que já é evidente na indústria automóvel e na redução das centrais de produção de energia através da queima de hidrocarbonetos.

A AIE, por exemplo, apresenta como cenário ambientalmente sustentável, que permitiria uma redução da temperatura global para níveis aceitáveis, uma redução na emissão de metano para um nível inferior às 50 milhões de toneladas, em 2025.

Isto, quando, em 2020, a produção de metano foi de 70 milhões e em anos sem pandemia muito perto das 80 milhões de toneladas, o que representa um esforço hercúleo para a indústria petrolífera, especialmente nos EUA e na Rússia, os maiores emissores deste gás, o que imporá às companhias escolher os seus investimentos em função do menor risco também nesta matéria.

Mas este problema coloca-se igualmente no sector dos transportes marítimos, como o Novo Jornal noticiou aqui e aqui.