Ao NJOnline, o director de Comunicação da Delegação do Ministério do Interior na Lunda Norte, inspector-chefe de imigração Rodrigues Zeca, negou as acusações da população contra as autoridades policiais e militares, mas informou que houve uma tentativa de invasão por uma grupo largo de pessoas da administração do Projecto Diamantífero do Lulo.

"Por volta das 13:15 desta quarta-feira, 27, na localidade do Xamiquelengue, município de Capenda-Camulemba, junto à barreira policial da Operação Transparência que se realizava naquele momento, compareceu um grupo de mais de 70 cidadãos, incluindo autoridades tradicionais e suas famílias, que se dirigiam em direcção ao Projecto Lulo com intenções de vandalizar as instalações", disse o oficial.

O grupo de pessoas dirigia-se ao projecto do Lulo, que é gerido pelos australianos da Lucapa Diamond Company e onde a Endiama e a Rosa & Pétalas são sócios, porque a direcção da "mina do Lulo" não teria honrado um acordo que tinha com o povo daquela localidade.

"Tão logo chegaram ao local eles (a população) foram interceptados pelos efectivos da PN e das FAA que estavam em serviço", explicou Rodrigues Zeca, sublinhando que houve muita insistência por parte do líder do grupo que comandava os sobas.

"Depois de alguns minutos, o grupo iniciou as agressões contra os efectivos em serviço na barreira, tendo culminado com a captura de quatro armas que estavam em posse das Forças Armadas", conta, salientando que isto sucedeu no momento em que as autoridades se estavam a "mobilizar para diálogo".

"Um dos sobas atirou-se contra um dos efectivos das FAA tendo-o atirado para o chão. Quando o militar se ergueu, fez dois disparos, atingindo com um tiro a soba na coxa da pwerna direita", descreveu, salientando que o indivíduo foi de imediato transportado para o hospital.

O responsável fez saber ainda que em resultado das agressões ficaram gravemente feridos quatro efectivos das FAA e três da Polícia Nacional.

Neste momento encontram-se detidos 23 cidadãos que se envolveram na agressão contra as autoridades.

Já Jordan Muacabinza, activista cívico e defensor dos direitos humanos, que obteve o "filme dos acontecimentos" no local, disse ao NJOnline que os efectivos da PN e das FAA, no município de Capenda-Camulemba, fizeram vários disparos que atingiram um regedor e um estudante que passava na localidade na hora do confronto.

Os desentendimentos, segundo esta fonte, ocorreram porque os sobas tentavam ir ao encontro dos responsáveis do Projecto do Lulo a quem tinham, numa primeira reunião, exigido apoio para a criação de escolas e hospitais tendo em conta que a exploração de diamantes decorre em terras que são pertença ancestral da comunidade.

"Os sobas foram exigir os seus direitos como donos da área, em função da mina do Lulo explorar diamantes naquela zona", disse, adiantando que os sobas foram simplesmente pedir à empresa escolas, hospitais assim como o apoio de medicamentos para o hospital existente no município de Capenda-Camulemba.

A mina do Lulo é uma das mais conhecidas em Angola e foi dali que saíram os três maiores diamantes extraídos pela indústria diamantífera angolana desde sempre, nomeadamente um de 404 quilates, em 2016, - o maior - que foi vendido em bruto por 16 milhões de dólares e que a casa de luxo suíça De Grisogono, que o adquiriu, transformou numa jóia de grande qualidade que acabou leiloada por cerca de 34 milhões USD.