O continente africano é, de longe, o mais afectado pela malária, tanto em número de casos como de mortes, em todo o mundo, onde, dados oficiais referentes a 2017, apontam para que aqui tenham ocorrido mais de 93 % das mortes globalmente relacionadas com esta doença e 92 % de todos os casos conhecidos no planeta, com as mortes a ultrapassarem os 400 mil por ano.

Apesar de Angola não estar actualmente no top 5 dos países mais devastados por esta doença transmitida em África pelo mosquito anopheles gambiae, é um dos que mais mortes registou nas últimas décadas e um dos que, por isso mesmo, mais poderá beneficiar com o eventual sucesso da experiência em curso no Burkina Faso.

A lista dos mais expostos à patologia são a Nigéria, com 25% dos casos globais, a seguir a República Democrática do Congo (RDC), com 11%, depois Moçambique e segue-se o Uganda, com 5 e 4% respectivamente. Apenas a Índia, cuja população é idêntica à de todo o continente africano, se intromete neste top 5, com os mesmos 4% do Uganda.

Mas, apesar disso, Angola conta, números referentes a 2017, com mais de 3 milhões de casos/ano, dos quais resultaram 7356 mortes, uma diminuição vertiginosa face ao ano anterior de 53%.

Diminuição que seria ainda mais abrangente nos próximos anos se a experiência em curso na África Ocidental se revelar frutuosa.

Essa experiência consiste em modificar geneticamente os mosquitos para que a sua descendência seja apenas de machos, o que permitiria exterminar a sua população totalmente em pouco tempo, sendo que os que fossem permanecendo, seriam essencialmente mosquitos machos, que não se alimentam de sangue, cabendo às fêmeas a responsabilidade pela totalidade das vítimas.

Se os resultados forem totalmente conseguidos, não só a reprodução resultará apenas em machos como esses machos apenas conseguirão reproduzir-se em machos com igual incapacidade de terem descendência feminina, contou, citado pela agência, Moussa Namountougou, chefe do Instituto de Pesquisa Científica em Saúde, entidade responsável pelo trabalho.

Cientificamente, e explicado de forma simples, a experiência consiste em adicionar ao ADN do mosquito anófeles gambiae informação genética de um bolor, cuja característica mais proeminente é a capacidade de sobreviver na forma de células simples, o que, segundo os autores da experiência, fará com que a fêmea deste mosquito deixe de ter descendência feminina, exterminando a capacidade reprodutiva da espécie.

A equipa de cientistas que conduz os trabalhos no terreno estima que, se obtiver sucesso, em escassos dois, três anos, pode erradicar-se a doença de uma região e, em algumas décadas, num cenário de extremo sucesso, em todo o mundo.