Como resultado deste episódio de extrema violência nas ruas de Luanda, foram detidos pela Polícia Nacional "pelo menos 18 pessoas" por suspeita de envolvimento na arruaça e o agente que alegadamente disparou sobre a vítima mortal está igualmente detido.

A PN enviou um forte contingente para o local de forma a repor a ordem mas foi confrontada com vários focos de incêndio, na maior parte com pneus a arder no meio da via, e ainda com apedrejamento tanto da força de segurança como contra as viaturas civis que circulavam pelo local naquele momento.

Há informações não confirmadas sobre a possível existência de mais mortes e o número de feridos graves apontar para a possibilidade de vir a aumentar o número de fatalidades devido à violência que ocorreu entre populares e a polícia, com forte tiroteio e lançamento de objectos, como pedras e garrafas, numa e noutra direcção, como relataram ao NJOnline diversas testemunhas oculares.

Os populares, ainda segundo moradores, dirigiram-se à esqudra da PN onde está colocado o agente da polícia que apontam como autor do tiro fatal sobre Juliana Kafrique, que deixa três filhos menores, o mais novo tem apenas seis meses, o mais velho sete e no meio ainda um de ois anos, obrigando os agentes que ali estavam a fugir tendo existido uma tentativa para libertar os detidos que estavam preventivamente nas celas daquele posto policial.

O edifício da administração do Prenda foi parcialmente pelo fogo ateado pelos populares enfurecidos. Os seguranças que estavam no local foram obrigados a fugir para não serem agredidos.

Uma das pessoas que assistiu aos tumultos da 21 de Janeiro deste o seu início, embora não tendo assistido ao disparo letal sobre a zungueira, contou ao NJOnline que por detrás desta reacção das pessoas está não só o desejo de manifestar a revolta contra a acção policial mas também uma consequência de uma insatisfação social latente devido à deterioração das condições de vida.

Na reacção oficial a estes tumultos, a PN, em comunicado, explica que na génese destes confrontos esteve uma actividade normal de manutenção da ordem pública da polícia, colocando como razão para a morte da mulher um "suposto" disparo de um agente policial.

Esse disparo, ainda segundo o documento emitido pela PN, "originou uma situação de confronto entre as forças da ordem e a população residente naquele território, o que obrigou medidas policiais proporcionais, capazes de repor a ordem pública".

A PN aproveitou este momento para lançar um apelo à população de Luanda para "não entrar em euforia e a evitar o desacato às autoridades policiais em situações semelhantes", endereçando ainda "os mais profundos sentimentos de pesar" à família enlutada.

Entretanto, a deputada do MPLA, Tchizé dos Santos, já reagiu publicamente a esta situação afirmando nas redes sociais que "nada justifica disparar contra uma mãe de família desarmada" que foi "alegadamente morta por um polícia por vender produtos na rua".

A deputada pede para que, face a este cenário, que se passe "a priorizar o que é de facto mais urgente, que é arranjar soluções para que estas mães tenham como sustentar os filhos sem correr risco de vida, num país onde os índices de desemprego subiram vertiginosamente no último ano".

Tchizé dos Santos, ainda na sua página do Facebook, recorda que também fez o mesmo apelo quando o seu pai ainda era Presidente aquando do caso do jovem Rufino, de 14 anos, morto no Zango por um militar quando procurava proteger a sua casa.

E aproveitou ainda para relembrar que já pediu, numa declaração no Parlamento, para que às forças de segurança "fosse ministrada formação" e feitas "campanhas de sensibilização para que os efectivos passassem a lidar de forma diferente com as populações civis, valorizando e respeitando a vida humana e a integridade física dos cidadãos, na sua acção de manutenção da ordem pública".