Com as palavras do Presidente dos Estados Unidos a seguirem na direcção esperada, querendo tudo e o seu contrário, como não querendo, primeiro, mudar o regime no Irão, para depois, apenas passadas algumas horas, já admitir que até era boa ideia, os mercados começaram a estabilizar.

Não por não haver razões mais que suficientes para se poder estar à beira de um cataclismo económico global, como o justifica a decisão do Parlamento iraniano de aprovar o bloqueio do Estreito de Ormuz, por onde passa mais de 20% do crude consumido em todo o mundo...

... mas sim porque a resposta iraniana ao ataque do fim-de-semana dos EUA sobre os três locais mais importantes do programa nuclear de Teerão não foi contra os interesses norte-americanos na região mas sim contra Israel.

Ou apenas mais um dia "normal" desde que na sexta-feira, 13 de Junho, Telavive lançou um ataque traiçoeiro e inesperado ao Irão, quando decorriam negociações com a Administração Trump e ninguém esperava que Israel fosse comprometer esse processo que tinha para o Domingo seguinte a 6ª ronda negocial sobre o programa nuclear persa.

E a decisão de bloquear o Estreito de Ormuz ainda não foi tomada por quem efectivamente manda no Irão, que é o seu Líder Supremo, o aiatola Ali Khamenei, provavelmente porque esta estará dependente do périplo diplomático do ministro dos Negócios Estrangeiros por Moscovo e, provavelmente, por Pequim, depois de ter estado na Turquia.

Com efeito, o encontro desta segunda-feira, 23, de Abbas Araghchi, com o Presidente russo, Vladimir Putin, em Moscovo, poderá ditar os contornos decisivos da resposta iraniana, como o próprio chefe da diplomacia iraniana afirmou antes de embarcar para a capital russa: "Está tudo em aberto!".

Para já, o barril de Brent, que serve de referência principal às ramas exportadas por Angola, estava, perto das 08:40, hora de Luanda, nos 77,80 USD, uma subida de mais de 1%, depois de ter chegado aos 79,15 USD horas antes.

Se outra consequência não tivesse, que em, em todo o mundo, a crise iraniano-israelita permitiu ao Executivo angolano afastar, provavelmente de vez, a exigência de uma revisão do OGE 2025, que, antes, estava sob pressão devido a numa trajectória negativa do valor da matéria-prima.

Rumo esse que se manteve mesmo durante quase dois meses abaixo dos 70 USD, o valor médio de referência com que Luanda elaborou o documento estrutural das suas contas públicas e de onde saltou para cima dessa fasquia assim que Israel lançou esta guerra contra Teerão.

E agora a bússola económica global está sob a pressão magnética do "Norte", que é o resultado da conversa de Araghchi com Putin e um eventual fecho do Estreito de Ormuz, cuja relevância é bem conhecida mas tem em Pequim um mais que provável diluente, porque a China seria uma das principais vítimas...

... a não ser que Teerão tenha uma fórmula mágica que permita um bloqueio parcial, deixando uma brecha navegável para os navios que seguem rumo ao gigante asiático, que é o mais relevante aliado económico de Teerão devido aos seus multimilionários investimentos oeste país no âmbito da sua "Nova Rota da Seda" ou "Belt & Road Initiative", com a qual pretende ligar os quatro cantos do mundo a Pequim.