Neste terceiro mandato, que começou a 01 de Janeiro de 2023, Lula da Silva já passou mais de três meses fora do Brasil, são mais de 140 dias em compromissos oficiais distribuídos por 46 países. De acordo com a imprensa brasileira, o Presidente brasileiro pode visitar mais 12 países até ao final do ano. É que Lula da Silva é o Presidente brasileiro que mais viagens realizou e é um dos Chefes de Estado que mais viajou na história mundial. Foram 139 viagens para 80 países nos dois primeiros mandatos (2003-2010), que foram alvo do escrutínio público e até inspiraram o humor brasileiro, quem não se lembra do Casseta & Planeta com o "Olha o Lula indo, olha o Lula vindo"? Com 31 visitas até ao momento, perfazendo um total de 170 visitas. Lula responde dizendo que sabe o que está a levar para o Brasil, uma referência aos ganhos económicos e de imagem para o Brasil. A sua assessoria diz que estas visitas internacionais reflectem a forte necessidade de reposicionar o Brasil no Mundo após um período de isolamento do país, ou seja, Lula está a recuperar o espaço que o Brasil terá perdido na arena internacional durante o governo de Jair Bolsonaro. A grande vantagem de Lula da Silva é que, na realidade, estas viagens agregam valor para a imagem e posicionamento do Brasil na arena internacional, trazem negócios e alavancam a economia.
Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito Presidente de Portugal há nove anos (09 de Março de 2016), está desde 2021 a cumprir o seu segundo e último mandato que termina em 2026. Nestes seus dois mandatos, já fez 155 deslocações para países estrangeiros, das quais 20 foram visitas de Estado e a 56 países diferentes. Marcelo foi 19 vezes a Espanha, 16 a França e 11 aos EUA (sete das quais à ONU). Uma nota importante é que as idas ao estrangeiro do Presidente de Portugal são obrigatoriamente comunicadas à Assembleia da República, e é assim que em regra se tornam do conhecimento público.
Trago estes dois exemplos porque no Brasil e em Portugal as questões sobre as viagens de um PR são discutidas de forma livre e aberta no espaço público. Facilmente se encontra o número de viagens e os seus destinos, porque são divulgados publicamente, tudo em nome do dever de informação de quem governa e o direito à informação dos cidadãos.
O NJ divulgou um estudo que revela que, entre Setembro de 2017 e Maio de 2025, o Presidente João Lourenço efectou 112 viagens ao exterior com um custo (nivelado por baixo) em 948 milhões de dólares, em que o Chefe de Estado angolano ficou 357 dias fora do País, quase um ano fora, visitando 46 países. João Lourenço já visitou África, Europa, América do Norte, América do Sul e Ásia, faltando-lhe visitar a Oceânia.
Um tema que deveria levantar debates sobre estes custos e a utilidade de certas viagens. Não se diz que o Presidente da República não tenha de viajar, nada disso. No exercício das suas funções, tem de estabelecer parcerias, reforçar laços e liderar a estratégia diplomática. Penso que deve existir maior abertura para análise, para avaliar resultados de certas deslocações e analisar os custos com os resultados das mesmas.
As delegações numerosas que acompanham cada viagem do PR levantam também dúvidas sobre a sua funcionalidade e despesas. Sendo o PR um "empregado", é perfeitamente normal que o "patrão" questione os custos e exija contas.
Estas viagens não são auditadas pelo Tribunal de Contas e os seus valores são quase sempre "exagerados". É também nestas viagens do Presidente da República que há anos se escondem esquemas sobre despesas logísticas, ajudas de custos e outros.
Em nome do rigor, da transparência e da lisura, devia haver uma maior atenção sobre o assunto. O que indigna os cidadãos é sentir que existem custos exorbitantes e que os resultados práticos destas saídas não se reflectem na vida deles.
Por isso, com uma certa pitada de humor dizem: "E se mais mundo houvera, lá chegara".